Título: Presidente quer seus gastos fora da internet
Autor: Costa, Rosa ; Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2008, Nacional, p. A4

Brasil 'não tem sigilo demais, tem de menos', protesta Lula

Vera Rosa e Tânia Monteiro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quer que o Portal da Transparência divulgue as despesas com cartão corporativo feitas por seguranças que prestam serviços ao Planalto e a sua família. Na reunião da coordenação política do governo, realizada ontem, Lula criticou a Controladoria-Geral da União (CGU) por exibir no portal gastos de funcionários destacados para proteger seus filhos. Mais: disse que o governo não ficará acuado pela oposição nem aceitará que o foco da CPI dos Cartões seja familiar.

Sob a alegação de que é preciso preservar as instituições, Lula pediu à CGU que monte equipe para fazer uma ¿varredura¿ das informações que entram no site. Afirmou não se tratar de censura, mas, sim, de cautela. ¿Não tem sigilo demais. Tem de menos¿, disse o presidente. ¿Nós fizemos um Portal da Transparência e pusemos tudo lá, mas é preciso cuidado.¿

Lula retornou ao Planalto ontem, depois de 11 dias de descanso no Guarujá. Durante suas férias, soube que quatro funcionários da equipe que protege sua família, em São Bernardo do Campo, gastaram R$ 224,3 mil nos últimos quatro anos (2004 a 2007) em compras com cartão corporativo, incluindo uma esteira ergométrica. Além disso, seguranças da Presidência que prestam serviços a sua filha Lurian Cordeiro Lula da Silva usaram o cartão, em Florianópolis (SC), para pagar despesas em lojas de materiais de construção, autopeças e ferragens.

O governo avalia que há riscos na divulgação desses dados sob o argumento de que tanto o presidente como sua família e funcionários do Planalto podem sofrer ações de sabotagem. Lula chegou a dizer que, se não for tomada nenhuma providência, chefes de Estado poderão evitar vir ao Brasil daqui para a frente. ¿A segurança é para o presidente, ex-presidentes e nossos convidados¿, insistiu.

À noite, o presidente se reuniu com os ministros José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), Franklin Martins (Comunicação Social) e com os líderes do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA), para traçar a estratégia do Planalto na CPI.

Na prática, o governo não abre mão de controlar a comissão e quer indicar relator e presidente. A decisão de apoiar uma CPI mista, reunindo deputados e senadores, foi tomada ontem pela manhã, quando Jucá esteve no Planalto. ¿A CPI pode ser mista, na Câmara ou no Senado, que é um bunker da oposição, mas é preciso investigar suprimento de fundos também¿, disse Lula, numa referência às chamadas ¿contas B¿, muito usadas no governo Fernando Henrique antes da criação do cartão, em 2001.

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