Título: Em meio a incertezas, Copom decide juro
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2008, Economia, p. B4
Expectativa é de que taxa continue em 11,25% ao ano
Num cenário de grandes incertezas em relação à economia americana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anuncia hoje a nova taxa de juros no Brasil para os próximos 42 dias. A expectativa é de que os diretores do BC optem pela manutenção dos juros em 11,25% ao ano. Mas alguns analistas já elevaram a projeção da Selic para 2008, conforme o relatório Focus do Banco Central.
Além da questão externa, o que vai pesar na decisão de hoje é a evolução dos índices de inflação, cujas previsões vêm piorando desde o último encontro do Copom, no fim do ano passado. ¿Na última ata, tal como no Relatório de Inflação trimestral divulgado no fechamento do mês passado, o BC demonstrou preocupação especial com esse assunto¿, destaca o economista da Modal Asset Mangement, Alexandre Póvoa.
Segundo ele, analisando de forma isolada os aspectos técnicos ¿visíveis¿ de evolução da inflação e a relação entre oferta e demanda, não se poderia condenar o BC caso optasse até por elevar a taxa Selic de forma preventiva neste momento. ¿Mas consideramos que BC adie essa decisão até a reunião de março para ter um cenário mais claro do mercado internacional.¿
O economista para Brasil do Morgan Stanley, Marcelo Carvalho, acredita que essa será a decisão do BC hoje. Segundo ele, a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de reduzir os juros ontem tem impacto ambíguo na política monetária brasileira, mas não muda a expectativa de manutenção da Selic, pelo menos, no primeiro semestre. ¿O BC provavelmente não vai fazer nada ao longo dos próximos meses¿, disse ele.
Carvalho explicou que a ambigüidade do impacto do corte de juro no EUA está no fato de, de um lado, a desaceleração global poderá esfriar a demanda agregada da economia brasileira, o que poderia ser bom para a inflação. E também pode conter a alta das commodities e da alimentação, que tem sido o vilão da inflação. ¿Por outro lado, pode ter impacto negativo nas contas externas¿, salientou o economista.
Ele prevê uma piora da balança comercial, cujo saldo poderá cair de US$ 40 bilhões para cerca de US$ 20 bilhões este ano. ¿A conta capital também pode sofrer. O fluxo para o Brasil tende a se reduzir num cenário de maior aversão a risco¿, comentou. O economista descarta um cenário de alta de juros este ano. ¿O BC teria que pensar duas vezes antes de embarcar no aperto da política monetária. Mas é possível que antes que o ano acabe ele comece a reduzir os juros¿, afirmou ele.
DENTRO DA META
Para a economista-chefe do Banco ABN Amro no Brasil, Zeina Latif, o agravamento da situação internacional não terá impacto na reunião de amanhã do Copom. ¿Nessa reunião não haveria razão para aumento de juros.¿
Ela explica que a economia mostra sinais de aquecimento com piora do quadro inflacionário, mas se trata de uma inflação dentro da meta estabelecida pelo BC. ¿As expectativas inflacionárias estão bem ancoradas. Os analistas não esperam um descolamento da inflação em relação à meta; então o BC tem credibilidade, ou seja, eu acho que nós temos uma blindagem tal que, por hora, permite uma taxa de câmbio bem comportada¿, avalia ela.
Na avaliação do analista-sênior do BES Investimento, Fábio Knijnik, a decisão de emergência do Fed de cortar os juros em 0,75 ponto porcentual não afetará a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) na reunião de hoje.
¿A Selic está mais relacionada a eventos domésticos do que externos¿, explicou ele. Segundo o analista, os riscos atualmente para inflação estão na demanda. ¿O problema não é a questão do câmbio, mas o maior crescimento da demanda agregada¿, acrescentou.
Knijnik mantém a aposta de Selic estável em 11,25% até o fim de 2008, mas não descarta o risco de alta. Ele acredita que a ata que será divulgada na semana que vem deverá fazer menção a esse risco. ¿A ata deve continuar a sinalizar os riscos de inflação e preparar para um possível aumento de juros em março¿, disse ele.
O ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Economia Mundial da FGV-RJ, Carlos Langoni, afirma que há indicações de que o BC terá condições para esperar alguns meses para acompanhar de perto o desempenho de indicadores, como o IPCA, antes de decidir subir os juros, o que poderia causar impactos nos projetos de ampliação da Formação Bruta de Capital Fixo e reduzir o potencial de crescimento da economia brasileira. RICARDO LEOPOLDO, LUCIANA XAVIER, CÉLIA FROUFE E RENÉE PEREIRA