Título: Cai a procura por gás combustível
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2008, Economia, p. B5

Compras de equipamentos para carros cai 50% com a alta do preço do gás e a campanha contra o uso do produto

A política de desestímulo ao consumo de gás natural veicular (GNV) já vem obtendo resultados, na avaliação de especialistas e de gente que lida com o combustível no dia-a-dia. Fabricantes de cilindros e oficinas estimam uma queda de 50% nas vendas desde as primeiras declarações de representantes do governo contra o combustível, em novembro de 2007. O GNV foi o combustível que teve maior aumento de preços no ano passado, com alta de 7%, e a tendência é que os reajustes se mantenham ao longo de 2008.

Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o preço médio do GNV já acumula aumento de 5,9%. A alta é puxada pelo Estado do Rio de Janeiro, onde a mudança no cálculo do ICMS provocou reajuste de 11,43% em três semanas. E a onda vai se espalhar em outros Estados. No Rio Grande do Sul, a distribuidora local Sulgás reajustou o preço do GNV em 5,5% no dia 17. A empresa repassou os aumentos feitos pela Petrobrás no ano passado.

Preço maior é uma das estratégias do governo para conter o consumo do combustível, face ao desequilíbrio entre oferta e demanda de gás natural no País. Há dois anos, a Petrobrás retirou descontos concedidos às distribuidoras de gás desde 2003. Os preços passaram a acompanhar mais de perto a cotação internacional dos derivados de petróleo, que rege o contrato de importação da Bolívia e é parâmetro para a formação de preço do gás nacional.

A pá de cal, porém, foi jogada pelo ex-ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, em novembro, ao declarar que não aconselharia ninguém a converter seu carro ao GNV. ¿No dia seguinte, o movimento caiu¿, reclama Bruno José Pelle, proprietário da oficina Bruno Auto Elétrico, especializada na instalação de equipamentos para GNV, que teve queda de 60% nas vendas. ¿Se continuar assim, vou ter que dispensar pessoal¿, diz o empresário, que tem oito funcionários. O temor é generalizado. Em seu site, a conversora Gas Point traz artigos e mensagens para tranqüilizar o consumidor. ¿O GNV não vai acabar, é o combustível do futuro¿, diz uma delas.

Mas em seu programa de rádio na última segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ampliou o clima de incerteza ao dizer que o destino prioritário do gás é a geração de energia. ¿Se estiver sobrando gás, poderemos atender os carros.¿

¿As notícias ruins geram muita insegurança. As pessoas resistem à conversão¿, comenta Renato Ribeiro, gerente nacional de vendas da MAT, fabricante de cilindros para veículos que usam GNV. As vendas da companhia caíram à metade em dezembro. A MAT tem quatro fábricas e emprega 500 pessoas. A empresa começa o planejamento de 2008 de olho no mercado externo como alternativa para escoar a produção. ¿Mas com esse câmbio, pode não ser um bom negócio¿, pondera.

A solução já vem sendo utilizada pela White Martins, que tem duas fábricas de cilindros no Brasil. ¿Antecipando movimentos do mercado nacional, nossa estratégia foi diversificar os mercados¿, diz a companhia, em nota ao Estado. A White Martins exporta para a América do Sul e Ásia e tem certificação para o mercado europeu. Para 2008, as atividades brasileiras da companhia vão se concentrar em setores como siderurgia e mineração.