Título: 'Corte de juro nos EUA alivia, mas não resolve', diz Mantega
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2008, Economia, p. B5

Para ministro, crise vai durar enquanto as perdas não forem absorvidas

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que o corte de 0,75 ponto porcentual na taxa básica de juros americana vai trazer alívio aos mercados, mas não deve interromper a crise. Segundo ele, as turbulências devem continuar pelos próximos meses porque as perdas provocadas pelos financiamentos imobiliários de alto risco (subprime) ainda não foram totalmente absorvidas pelos agentes de mercado.

¿Enquanto não houver uma absorção das perdas, nós não teremos a digestão dessa crise. É uma bolha que ainda está se dissipando¿, disse o ministro, na entrevista sobre o balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Apesar de prever a continuidade dos solavancos nos mercados, Mantega comemorou a decisão do Fed e, descontraído, emendou: ¿Eles sabiam que íamos fazer o balanço do PAC hoje¿.

Por mais de uma vez, o ministro ressaltou que a crise ainda não chegou ao Brasil, mas reconheceu que ela ainda poderá atingir a economia do País. Na visão dele, se isso ocorrer, será por meio de uma alteração nos dados do comércio externo e no preço das commodities, que têm peso importante nas exportações brasileiras.

Apesar disso, Mantega reafirmou a projeção de crescimento de 5% da economia em 2008. ¿Se houver alguma coisa internacional mais forte, poderá haver uma pequena desaceleração aqui, mas aposto no crescimento robusto da economia brasileira.¿ Para ele, os investimentos de empresas nacionais e estrangeiras continuarão em alta em 2008 porque o crescimento do País tem sido puxado pela demanda interna.

Segundo o ministro da Fazenda, o corte nos juros e outras medidas de natureza ¿anticíclica¿ (na direção de reverter a tendência da economia) que as autoridades americanas estão tomando vão atenuar uma eventual recessão nos EUA, embora tenha destacado que, por enquanto, o que ocorre lá é somente uma desaceleração econômica.

`DOSE FORTÍSSIMA¿

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, foi ainda mais enfático em dizer que a economia dos EUA passa por uma desaceleração. ¿Não acredito, de forma alguma, em recessão nos Estados Unidos¿, disse Bernardo. Segundo ele, a decisão do Fed ontem mostra que o BC americano ¿não está para brincadeira¿ e, por isso, a economia daquele país deve reagir antes de entrar em recessão. ¿É uma dose fortíssima¿, acrescentou.

Para Bernardo, diante do atual cenário externo é importante preservar os investimentos do PAC para garantir a continuidade do crescimento da demanda interna. ¿Medidas preventivas se forem necessárias serão adotadas, mas o importante é sinalizar que o PAC vai continuar. Nós achamos que é preciso estar atentos com a situação dos EUA, mas não vamos alterar nossos planos naquilo que é substancial¿, acrescentou, para em seguida repetir frase proferida pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de que ¿o PAC é a melhor vacina contra a crise¿.

Apesar de dizer que não faria comentários sobre o Comitê de Política Monetária (Copom), que vai anunciar hoje o novo valor da taxa Selic, Mantega tentou dissociar a decisão sobre a taxa básica brasileira do corte na taxa de juros americana.

¿As realidades são diferentes. O Brasil não sofre dos mesmos problemas (dos EUA) e o comportamento dos juros, aqui, mantém-se exclusivamente em função da meta de inflação. O que nos interessa é a inflação, e ela está sob controle.¿ COLABORARAM GERUSA MARQUES E LEONARDO GOY