Título: Real resiste ao vaivém do mercado
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2008, Economia, p. B5

Moeda brasileira se desvalorizou apenas 0,96% ante o dólar no ano

Ao contrário de outras crises em que rapidamente o dólar disparava, desta vez o câmbio se mantém praticamente estável. Enquanto as ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo caíram 12,2% entre o último dia útil de 2007 e ontem, o dólar teve alta de apenas 0,96% no mesmo período. Na avaliação de analistas, os fundamentos econômicos mudaram e hoje o Brasil tem mais ativos em dólar, o que lhe garante a relativa estabilidade do câmbio.

¿Hoje os países emergentes são doadores de capital, ao contrário da década passada¿, afirma Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria Integrada. Segundo ele, depois das crises enfrentadas pelos emergentes e dos ajustes externos seguindo as regras do Fundo Monetário Internacional (FMI), esses países conseguiram acertar as contas externas.

O Brasil, por exemplo, diz Blanche, tem mais de US$ 200 bilhões em ativos, considerando as reservas e o swap cambial reverso e descontada a dívida do governo em moeda americana. É exatamente essa retaguarda da economia real que não permite que a cotação do dólar dispare. ¿Sai um pouco de capital da bolsa, mas não há impacto na taxa de câmbio¿, afirma.

Essa avaliação é compartilhada pelo economista-chefe do banco BNP Paribas, Alexandre Lintz. Ele observa que esse montante de ativos em dólar nas mãos do governo quebrou o círculo vicioso que era freqüente em crises externas passadas.

¿Hoje a subida do dólar não aumenta a relação entre a dívida e o Produto Interno Bruto (PIB)¿, diz o economista do BNP Paribas. Ele argumenta que, se o câmbio subisse, haveria mais reais na mãos do governo e a relação entre a dívida e o PIB diminuiria. Isso quebra as expectativas do mercado que levariam a uma alta do câmbio.

¿Depois dos ajustes que foram feitos, o País está muito mais resistente a choques¿, afirma o economista-chefe da Corretora Concórdia, Elson Teles. Segundo ele, além de reservas de US$ 185 bilhões, as perspectivas de financiamento do balanço de pagamentos são favoráveis, com a entrada de investimentos diretos e o saldo comercial ainda positivo neste ano.

Blanche, da Tendências, acrescenta ainda outro fator que garante a estabilidade do dólar. Ele observa que a arbitragem dos juros entre EUA e Brasil ainda vai atrair a entrada de capitais. Com o corte de juros feito ontem pelo Fed, a taxa real (descontada a inflação) nos EUA está negativa em 0,5%, enquanto no Brasil o juro real passou de 7% para 7,5%.