Título: Profetas da crise são estrelas em Davos
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2008, Economia, p. B7

Recessão nos EUA e os riscos para a economia global dominam o evento

Com os mercados globais em seu momento de maior nervosismo em muitos anos, o Fórum Econômico Mundial será aberto hoje em Davos, na Suíça, com um debate econômico que reúne os dois principais profetas de crises e tempos difíceis na economia mundial: os economistas Nouriel Roubini, que hoje comanda um dos portais econômico-financeiros mais prestigiados do mundo, e Stephen Roach, chairman para a Ásia do banco de investimentos americano Morgan Stanley.

Até domingo, quando se encerra o Fórum, a recessão nos EUA e os riscos para a economia global devem dominar as atenções em Davos, que contará este ano com a presença de várias autoridades econômicas e financeiras do mundo, como o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, e o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick.

No debate inicial sobre a conjuntura econômica global, Roubini deve se sentir vingado. Há um ano, no mesmo painel de abertura de Davos, ele ficou isolado ao prever, no momento em que se começava a falar em problemas no mercado hipotecário americano ¿subprime¿, que os Estados Unidos entrariam em recessão, afetando toda a economia global. Roubini se contrapôs a visões bem mais otimistas de economistas de altíssima reputação como Laura Tyson, da Universidade de Berkeley, e ex-conselheira da Casa Branca, e Jacob Frenkel, vice-chairman do grupo segurador AIG.

O ¿timing¿ de Roubini não foi perfeito, já que os seus alertas no Fórum Econômico Mundial de 2007 indicavam que o ano já seria afetado pela crise iniciada no mercado hipotecário americano. Na realidade, embora o problema tenha estourado com toda a força em 2007, o ano ainda apresentou excepcional crescimento global, e as piores conseqüências parecem reservadas para 2008.

Mesmo assim, não há dúvida de que o relativo descrédito com que o pessimismo de Roubini era encarado no início de 2007 deve se transformar em admiração por sua capacidade profética. No caso de Roach, as previsões de problemas na economia global são ainda mais antigas - tão recuadas no tempo, na verdade, que ele mesmo arrefeceu seu pessimismo antes da chegada da crise atual.

Ainda hoje, dia inicial do Fórum, outro debate, com o tema provocativo de ¿quem está no comando¿, vai reunir o megainvestidor George Soros e o Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, dois dos maiores críticos de como as principais autoridades econômicas do mundo vêm conduzindo o capitalismo globalizado. Não devem faltar críticas à forma frouxa com que os bancos centrais e outras autoridades financeiras deixaram grassar, com pouca ou nenhuma regulação, operações financeiras complexas e nebulosas, como aquelas que foram montadas a partir de carteiras de crédito hipotecário, que estão na origem da atual crise.

Outro tema quente desse e de outros painéis será o dos fundos soberanos de países emergentes, que são comandados por governos e estão comprando grandes nacos de empresas - e, com especial evidência agora, de bancos em dificuldade - das nações desenvolvidas.

AQUECIMENTO GLOBAL

Apesar do destaque que a economia global deve ter no Fórum de Davos de 2008 - com o colapso das bolsas e a tentativa de resgate do mercado pelo Fed, banco central americano, que cortou ontem a taxa básica em 0,75 ponto porcentual -, a programação será intensa em outros temas, como o aquecimento global, a instabilidade no Oriente Médio, o ¿choque de civilizações¿ na esteira do fundamentalismo islâmico e a superação da pobreza na África.

O debate desses assuntos geopolíticos contará com chefes de governo e estrelas do mundo político em atividade, como a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice (que será entrevistada hoje pelo chairman do Fórum, Klaus Schwab), o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, o presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, o presidente de Israel, Shimon Peres, e o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe. Esse time será reforçado por celebridades políticas como o ex-primeiro ministro britânico Tony Blair, o ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger e o ex-presidente do Irã Mohammad Khatami. O roqueiro Bono e a atriz inglesa Emma Thomson são alguns dos representantes do universo das celebridades artísticas.

No mundo dos negócios, as principais atrações previstas são os líderes de diversas das principais empresas do mundo, como Bill Gates, da Microsoft; Sergey Brin e Larry Page, fundadores do Google; e Craig Barrett, da Intel. Do segmento bancário, constam da programação Lloyd Blankfein, do Goldman Sachs; James Dimon, do JP Morgan; Brady Dougan, do Crédit Suisse; Richard Fuld, do Lehman Brothers; e Bill Rhodes, do Citibank, entre outros.