Título: Campo pode dar auto-suficiência em gás ao Brasil
Autor: Lima, Kelly
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2008, Economia, p. B10

Para diretor da Petrobrás, descoberta de reservatório na Bacia de Santos elimina risco exploratório na região

O diretor de Exploração e Produção da Petrobrás, Guilherme Estrella, afirmou ontem que a descoberta do reservatório de gás natural batizado de Júpiter praticamente elimina os riscos exploratórios da região, onde também foram encontradas as reservas gigantes de Tupi. Estrella não quis antecipar qual o volume de gás descoberto no novo campo, mas afirmou que as reservas contribuirão para garantir a auto-suficiência nacional em gás. O campo, porém, só entrará em produção a partir de 2014.

Em entrevista concedida ontem, Estrella, destacou que ¿todos os poços na região obtiveram sucesso¿. ¿Isso acaba com qualquer risco.¿ Segundo ele, as perfurações realizadas inicialmente em Tupi - onde a Petrobrás prevê que existam entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris recuperáveis - e posteriormente nas áreas ao redor, como Carioca e agora Júpiter, se mostraram ¿exitosas¿, porque todos os blocos apresentam alta prospectividade.

Estrella afirmou que a impossibilidade em calcular o volume existente hoje no campo se deve ao fato de a Petrobrás ter sido obrigada a retirar do projeto a sonda de perfuração que estava operando no local, porque ela havia chegado ao seu limite operacional e estava com uma parada programada para manutenção. Os trabalhos devem ser retomados no fim de 2008, informou o executivo, quando a plataforma sair do estaleiro.

Ele não descarta, porém, uma mudança no cronograma das sondas de perfuração para antecipar os testes em Júpiter. A Petrobrás tem hoje apenas duas unidades de perfuração aptas a trabalhar em profundidades como as encontradas nas águas ultraprofundas da Bacia de Santos. A outra está trabalhando neste momento no bloco BM-S-8.

O diretor da Petrobrás comemorou a descoberta de um reservatório com grandes volumes de gás, dizendo que terá grande contribuição na auto-suficiência do combustível. Trata-se do primeiro reservatório exclusivamente de gás natural encontrado abaixo da camada de sal em Santos, região com grande potencial petrolífero. Para o diretor da Petrobrás, a descoberta também deve tornar mais confortáveis as negociações com a Bolívia para o reajuste do preço do insumo, que devem ocorrer a partir do próximo mês.

MERCADO

A descoberta do reservatório de Júpiter fez com que as ações da empresa descolassem do índice Bovespa no pregão de ontem. O anúncio da nova descoberta puxou para cima o valor das ações da empresa, que estavam em queda junto com todo o mercado financeiro. ¿Outras empresas também estão com suas ações em alta por causa das notícias relativas ao aumento dos juros americanos, mas a Petrobrás está acima da média¿, disse especialista do setor de petróleo do Banco do Brasil, Nelson Rodrigues de Matos. Os papéis da empresa fecharam o pregão em alta de 9,5%.

Já Emerson Leite, do Credit Suisse, lembrou que a estratégia da Petrobrás nas suas perfurações na Bacia de Santos indicam que a companhia está mais interessada em delinear o tamanho da potencial reserva da camada pré-sal e compreender as características de cada uma das reservas. O foco agora, diz ele, está no cronograma de novas perfurações que a companhia deverá fazer na região, que pode trazer a confirmação da expectativa de reservas acima de 50 bilhões de barris para a área.

Estrella afirmou ontem que a Petrobrás quer antecipar o projeto-piloto do campo de Tupi para este ano. Segundo ele, a companhia já lançou no mercado uma licitação para encomendar um navio-plataforma para o projeto. A embarcação terá capacidade para produzir 40 mil barris de petróleo por dia e será utilizada para antecipar a produção em reservas recém-descobertas. No caso de Tupi, por exemplo, a Petrobrás tem até 2010 para declarar a comercialidade das reservas, mas Estrella informou que os técnicos da empresa ¿estão correndo contra o tempo para viabilizar esta operação ainda este ano¿.