Título: Dantas se prepara para sair de teles e investir em mineração
Autor: Aragao, Marianna
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2008, Negocios, p. B15

Banqueiro abre empresa para pesquisar reservas minerais e revendê-las a grandes grupos

O setor de mineração é o novo alvo do banqueiro e empresário Daniel Dantas. Em silêncio, ele montou nos últimos meses uma empresa especializada em pesquisar e avaliar reservas minerais pelo Brasil. Uma vez comprovado o potencial da mina, ela seria vendida para grandes mineradoras em leilões no mercado internacional.

Controlada pelo banco Opportunity - que pertence a Dantas - e com a participação de geólogos ligados a grandes descobertas minerais no País, a Global Miner Exploration (GME4) está pesquisando áreas em 11 Estados. Se conseguir repetir a média de acerto tradicional do setor - de 2% - em dois anos, a empresa passaria a valer US$ 1,3 bilhão. Se acertar a mão em 3% das pesquisas, o valor chegaria a US$ 2,5 bilhões.

¿Queremos ser o principal banco de oportunidades minerais da América Latina em 2010¿, diz o presidente da GME4, Paulo Rogério Campos Magalhães, que foi presidente do Metrô do Rio, quando a empresa era controlada pelo Opportunity. A GME4 tem pressa. Em sete meses de atuação, já conseguiu alvarás para pesquisa mineral em 800 áreas, somando 4 milhões de hectares de terras. Nelas, geólogos, engenheiros e técnicos fazem sondagens e mapeamentos geográficos para descobrir jazidas de minérios. ¿Nossa prioridade é níquel, zinco, cobre, bauxita e ferro¿, diz Magalhães.

ACORDO

A aposta de Dantas na mineração acontece em um momento emblemático. Ele passou os últimos dez anos - desde a privatização da telefonia, em 1998 - à frente de uma das mais ferozes brigas empresarias da história recente do País. Agora, ele deve sair do setor de telefonia para investir em outros negócios. Segundo fontes ligadas à área de telefonia, o banqueiro deu o sinal verde para a venda de suas participações na Oi (antiga Telemar) e na Brasil Telecom, que passarão a ser controladas pelos grupos La Fonte, de Carlos Jereissati, e Andrade Gutierrez, de Sérgio Andrade.

Segundo analistas de mercado, a participação dos fundos do Opportunity na Oi e na BrT vale cerca de R$ 1,3 bilhão. Pelo acordo que estaria sendo negociado, ainda segundo as mesmas fontes, Dantas não só sairia das teles, como se veria livre dos processos bilionários movidos contra ele pelo Citi e pelos fundos de pensão de estatais - seus sócios nas telefônicas. O banqueiro, por sua vez, também abriria mão das ações contra os rivais, num acordo parecido com o que fechou com a Telecom Italia.

MINERAÇÃO

Livre da briga na telefonia e dos processos judiciais, Dantas quer investir nas áreas em que o Brasil tem vantagens competitivas - e que passam longe de disputas políticas. Ele comprou 500 mil hectares de terra no Pará, onde cria aproximadamente um milhão de bois. Seu objetivo é se tornar um grande exportador de carne. Na mineração, quer aproveitar a forte demanda dos chineses e indianos por matérias-primas.

A GME4 não conta o quanto investiu até aqui, informa apenas que deverá aplicar R$ 40 milhões em pesquisas este ano. Segundo especialistas, para explorar as 800 áreas seriam necessários por volta de US$ 240 milhões. E o maior gasto é na fase seguinte, quando se fura o solo e se faz a prospecção do terreno. É uma loteria com um prêmio alto. Segundo estimativas dos geólogos, as prospecções em áreas selecionadas têm uma taxa de sucesso de 1% a 3%.

Nas contas de Magalhães, um resultado ¿medíocre¿ - ou seja, de 1% de sucesso -, resultaria num ativo de US$ 200 milhões para a empresa em dois anos. O acerto de 2%, mais provável, segundo ele, levaria a US$ 1,3 bilhão. Caso consiga acertar 3% das apostas, a empresa valeria US$ 2,5 bilhões.

O Opportunity é o controlador da nova empresa, com 62% das ações. A segunda maior participação - de 20% - ficou com o geólogo e empresário baiano João Carlos Cavalcanti. Ele ganhou notoriedade no setor ao apostar que havia minério de ferro, e de boa qualidade, na região de Caetité, na Bahia. Outros geólogos costumavam dizer que a exploração de minério do Brasil deveria se restringir a Minas Gerais e ao Pará.

Junto com empresários indianos, a empresa de Cavalcanti, a Bahia Mineração Ltda (BML) anunciou um investimento de US$ 1,6 bilhão para explorar minério em Caetité. Outro geógrafo que participou da descoberta, o alagoano Caio Jatobá, que trabalhou na Vale, também virou sócio da GME4, com 5% de participação. A GME4 conta ainda com a participação no seu Conselho Consultivo de Thiers Mansano Barssoti, ex-diretor da Vale, que chefiou operações como a da área da mina de Carajás.

¿Esse é um negócio com grande potencial¿, diz Marcelo Tunes, diretor do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). ¿Com a alta do preço dos minérios, tem muita gente vindo para o Brasil prospectar novas áreas.¿ O estoque de áreas da GME4 não é maior do que o das grandes mineradoras, como a Vale, mas é considerado um dos maiores do País.

RETOMADA

Durante muitos anos, a pesquisa mineral no Brasil foi negligenciada. O preço dos minérios estava em baixa e o governo federal não tinha recursos para mapear o território. Agora, governos de Estados como Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso e Goiás estão investindo em busca de oportunidades. Grandes mineradoras e fundos de investimentos internacionais também voltaram a vasculhar o território brasileiro.

O potencial brasileiro é um dos maiores do mundo, segundo Jatobá, da GME4. Brasil, Austrália e Canadá estão entre os países com maior área com características que indicam a presença de minerais valiosos. Só que os investimentos em exploração no Canadá foram sete vezes maiores do que no Brasil. Os da Austrália foram quase cinco vezes maiores.

Segundo o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), somente este ano serão investidos US$ 400 milhões em pesquisas. Boa parte desse valor é bancado por grandes mineradoras, geralmente em áreas próximas às suas reservas.

A Votorantim Metais - divisão do Grupo Votorantim que lida com aço, níquel, alumínio e zinco - vai investir R$ 149 milhões em buscas de novos depósitos minerais. Segundo o diretor de exploração mineral, Jonnes Belther, o grupo intensificou os investimentos em pesquisas minerais a partir de 2004, quando criou uma área exclusiva para esse trabalho. Hoje, avalia áreas no Brasil, Bolívia, Peru e Colômbia.