Título: Em dia volátil, bolsas dos EUA sobem
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/01/2008, Economia, p. B1
Depois de cair 2,72%, Dow Jones se recupera e avança 2,5%; mercados do Brasil e da Europa têm fortes perdas
No dia seguinte à surpreendente redução da taxa básica de juros nos Estados Unidos, as bolsas de valores globais tiveram pregões com intensa volatilidade. A maioria fechou no vermelho, mas o mercado americano, que normalmente dita a tendência para o resto do mundo, inverteu a mão perto do fim dos negócios e registrou expressivas valorizações. O Índice Dow Jones, que chegou a perder 2,72% na mínima do dia, avançou 2,5%. A bolsa eletrônica Nasdaq, que no pior momento do pregão se desvalorizou 3,91%, subiu 1,05%.
Dois fatores explicaram a virada. Um deles é o movimento conhecido como caça às barganhas, no qual investidores compram papéis cujas cotações caíram muito e começam a ser considerados baratos.
O outro foi uma informação de que autoridades dos EUA articulam um plano para socorrer seguradoras de crédito que tiveram grande prejuízo com a crise das hipotecas subprime.
A agência AFP noticiou, sem identificar as fontes, que o regulador-chefe da área de seguros do Estado de Nova York, Eric Dinallo, pediu ontem que grandes bancos injetem US$ 5 bilhões em empresas problemáticas do setor. Segundo o Financial Times, seriam até US$ 15 bilhões. As ações da área financeira dispararam. Os papéis da seguradora Ambac, que tem sido alvo de rumores de falência, subiram 63%. Os do Citigroup avançaram 7,9%.
Por causa do fuso horário, as outras praças não acompanharam a mudança de humor em Wall Street. A maioria refletiu o pessimismo com a ameaça de recessão nos Estados Unidos, que não se dissipou nem mesmo com o corte surpresa do juro promovido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), na terça-feira.
¿A pergunta entre os investidores é se o Fed fez o suficiente para deter a onda negativa provocada pela crise de crédito, pela desaceleração do mercado imobiliário e pelo risco de uma recessão¿, informa um relatório do banco de investimentos americano Bear Stearns. ¿No day after da ação do Fed, caiu a ficha de que o impacto da queda do juro na economia demora a ocorrer¿, observou a economista-chefe do banco ABN Amro Real, Zeina Latif.
Na Europa, o Índice FTSE-100, da Bolsa de Londres, perdeu 2,28% e o CAC-40, da Bolsa de Paris, 4,25%. O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) recuou 3,32% e acumula baixa de 15,11% no ano.
¿Quando o Fed reduz a taxa básica em 0,75 ponto porcentual, se supõe que as ações subirão¿, disse T.J. Marta, estrategista de renda fixa do RBC Capital Markets. ¿Mas ainda há muito medo entre os investidores.¿
A julgar pela avaliação dos especialistas, a melhora em Wall Street pode ter sido apenas temporária. ¿O grau de incerteza é muito grande e, por isso, os mercados oscilam demais¿, disse Zeina. Segundo ela, ainda existem muitas perguntas sem resposta. ¿Não se trata apenas de avaliar as ações do Fed, mas de saber como estão se comportando o mercado imobiliário, o mercado de crédito e a própria economia, o que só pode ser feito à medida que mais indicadores sejam divulgados.¿
Por causa do nervosismo, o dólar subiu 1,84% ante o real, para R$ 1,825. Ainda assim, a valorização da moeda americana no ano (2,82%) é pequena se comparada às perdas da Bovespa. Na opinião de Zeina, mesmo que a situação atual nos EUA piore, o real deve ter um desempenho mais positivo ante o dólar do que em outras crises, por causa da melhora dos fundamentos da economia brasileira.
Para ela, só uma eventual deterioração nos preços das commodities exportadas pelo Brasil (especialmente aço e soja) teria impacto significativo (mas não catastrófico) sobre o real.