Título: Brasil é visto com otimismo e cautela
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/01/2008, Economia, p. B5
Analistas reunidos em Davos vêem boas possibilidades de o País resistir à crise, mas fazem algumas ressalvas
Davos - Há uma mistura de cautela e moderado otimismo em Davos em relação à capacidade do Brasil e de outros países da América Latina resistir sem abalos mais desastrosos à provável recessão nos Estados Unidos e à turbulência global.
Segundo o Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, a maior parte dos problemas da América Latina nos últimos 25 anos veio da economia internacional, e afetou até países com políticas econômicas razoáveis. Quanto ao Brasil, o País ¿fez uma série de coisas certas, mas também é dependente dos preços altos das commodities¿. Stiglitz acrescentou que a dívida pública brasileira ainda é percebida como alta.
¿A boa notícia para o Brasil é que as forças que elevaram os preços das commodities devem prosseguir, mesmo com desaceleração global¿, disse Stiglitz. Ele previu que o preço do petróleo continuará alto, mesmo que caia um pouco, e notou que os biocombustíveis criaram ligação entre o mercado de combustíveis fósseis e o de comida. Segundo Stiglitz, ¿o Brasil é um dos poucos países que terá um pouco mais de facilidade para atravessar a tempestade¿.
Mais cauteloso, Stephen Roach, chairman do Morgan Stanley na Ásia (e um dos mais famosos ¿pessimistas¿ em relação à economia global) observou que uma desaceleração mundial vai reduzir o preço das commodities, o que afeta o Brasil. Mesmo frisando que o ¿ótimo trabalho¿ na política econômica, o economista ponderou que ¿o Brasil está ligado aos ciclos de globalização, e vai sentir¿.
Para Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro americano,¿o Brasil está numa posição muito melhor do que quando tivemos dificuldades econômicas no passado, mas acho que qualquer um que confie totalmente na tese do descolamento está fazendo uma aposta arriscada¿. Ele frisou que, para se preparar para a crise, os países devem prosseguir com reformas estruturais.
Segundo Fred Bergsten, diretor do Peterson Institute for International Economics, nos EUA, ¿o efeito da desaceleração econômica americana será muito modesto no Brasil, já que as ligações comerciais com os EUA não são muito grandes¿. Para ele, o crescimento brasileiro pode perder alguns pontos centesimais por causa da crise, mas o efeito será moderado. ¿O Brasil está numa posição muito boa para resistir.¿
Felipe Larrain Bascuñán, economista da Universidade Católica do Chile, notou que a América Latina está na melhor condição econômica em muitas décadas, com redução expressiva da dívida pública, superávit fiscal na maioria dos países e superávit médio em conta corrente de 2,5% do PIB. Ele acrescentou, porém, que é preciso separar a América do Sul da América Central e do México, muito mais dependentes das exportações aos EUA.
Quanto ao Brasil, ele vê uma situação parecida com a da região como um todo, com a vantagem das grandes descobertas recentes de petróleo e gás. Bascuñán notou ainda que o Brasil está próximo do grau de investimento, o que também é sinal de saúde econômica. ¿O fato é que vamos sofrer, mas menos do que no passado, porque os EUA são menos importantes para a América do Sul.¿