Título: Desta vez, a cautela foi elogiada
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/01/2008, Economia, p. B9

Empresários dizem que incertezas justificam a estabilidade da Selic, mas esperam que redução seja retomada

A cautela do Banco Central diante da turbulência provocada pela ameaça de recessão nos Estados Unidos foi elogiada por empresários da indústria e do comércio. A maioria, porém, espera que a redução da taxa básica de juro (Selic) seja retomada já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Muitos temiam que o BC elevasse as taxas ontem.

¿Neste momento é saudável ter cautela¿, disse o presidente da maior montadora do Brasil, a Fiat, Cledorvino Belini. Aumentar os juros neste momento, segundo ele, ¿seria um sinal de que (o BC) acredita na crise¿.

Para a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), não se poderia esperar outra atitude num momento de tensão derivado da crise econômica. ¿Diante dos entraves flutuantes pelos quais passam os mercados, não se poderia esperar outra atitude que não fosse de cautela¿, disse Abram Szajman, presidente da entidade. ¿Entretanto, não podemos ignorar que, se no passado as reduções da Selic tivessem sido maiores, hoje a manutenção da taxa de juros estaria próxima do seu nível mínimo, de forma que a cautela de agora não traria nenhum ônus para o setor produtivo.¿

A Fecomércio-SP, no entanto, reforça que o comércio e todo o setor produtivo esperam que, a partir da próxima reunião do Copom, seja retomada a trajetória de queda da Selic.

¿A manutenção da Selic era esperada, pois, embora as taxas de juros ainda estejam muito elevadas e devam voltar a ser reduzidas, as incertezas do cenário internacional poderiam justificar a cautela do Banco Central¿, afirmou Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo. ¿Devemos considerar que a elevação do IOF provocou aumento do custo dos financiamentos, o que deve inibir maior expansão do consumo.¿

Na avaliação da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), as incertezas internacionais e a aceleração das pressões inflacionárias requerem maior parcimônia na condução da política monetária. Para a entidade, o momento exige ainda a contenção dos gastos públicos e a retomada das reformas estruturais. Dessa forma, segundo a Firjan, será possível tornar a economia brasileira mais imune aos riscos iminentes e possibilitar a breve retomada do corte da taxa básica.

A unanimidade dos membros do Copom em favor da estabilidade da Selic foi bem recebida pela seccional paulista do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBF). ¿Havia rumores sobre a divisão do Copom¿, diz Walter Machado de Barros, presidente do Conselho de Administração do IBF. ¿A unanimidade agregou valor à decisão, pois fechou margens para pessimismo no mercado e na cadeia produtiva¿.

Para Machado de Barros, ¿a divisão ou um viés de alta seriam lidos como preparação do terreno para um aumento de juros ainda neste semestre¿.

Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a decisão não surpreendeu. De acordo com técnicos da entidade, ¿os sinais de manutenção da robusta taxa de crescimento da demanda interna em ambiente de incertezas quanto ao cenário da inflação são as justificativas do Copom para a manutenção¿.

CRÍTICAS

O apoio à decisão do BC não foi unânime. ¿No momento em que o Banco Central americano (Federal Reserve) baixa a taxa de juros naquele país, induzindo os demais BCs de outros países a seguir essa mesma postura, como já aconteceu na China, o Banco Central do Brasil opta pela contramão e mantém a taxa Selic em 11,25% ao ano¿, disse Paulo Skaf, presidente da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp).

¿Esse posicionamento aumentará o diferencial de juros do Brasil ante outras economias¿, declarou Skaf.

Segundo ele, há uma grande contradição em tudo isso: ¿A crise é lá, nos Estados Unidos, e eles reduzem os juros e desoneram impostos. Enquanto isso, aqui no Brasil, quando o fim da CPMF traz condições para redução da Selic, a área econômica opta por uma conduta equivocada e que desestimula o crescimento¿.

Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, considerou decepcionante a decisão do Copom. ¿O Banco Central insiste em manter uma camisa-de-força no setor produtivo, inibindo a geração de empregos e renda¿, disse. ¿Manter esta política de juros altos é o mesmo que beijar a mão dos especuladores