Título: Petróleo recua para US$ 87 e deve cair mais
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/01/2008, Economia, p. B10

Expectativa de desaceleração econômica global deve produzir novas baixas

Depois de bater nos US$ 100 no início do ano, as cotações internacionais do petróleo vêm sentindo o impacto da crise financeira global e atingiram ontem o menor valor em três meses. Na Bolsa de Mercadorias de Nova York (Nymex), nos contratos de petróleo para março o preço caiu US$ 2,21, fechando o dia em US$ 86,99. Em Londres, o Brent fechou nos US$ 86,73.

Para analistas entrevistados pelo Estado, o movimento comprova que as cotações do início do ano não eram sustentáveis e pode sinalizar uma nova tendência de quedas para níveis abaixo dos US$ 80. No ano passado, a cotação média foi de US$ 74 por barril.

Desde o dia 2 de janeiro, quando atingiu pela primeira vez na história os US$ 100 por barril, a cotação do petróleo em Nova York já acumula queda de 12,4% - naquele dia, o barril fechou o pregão em US$ 99,38.

A expectativa de desaceleração na economia global e o consumo abaixo do esperado durante o inverno no Hemisfério Norte são apontados por analistas como razões para a queda.

Nesta semana, o Departamento de Energia dos Estados Unidos divulga novos dados sobre os estoques de petróleo no país, que devem ter subido 1,8 milhão de barris, segundo analistas ouvidos pela Dow Jones Newswire. O motivo é o consumo aquém do esperado de combustíveis para calefação.

Quando o recorde de preços foi atingido, em meio a conflitos políticos na África e no Casaquistão, analistas alertaram para a insustentabilidade do processo de alta, uma vez que não havia mudanças significativas no cenário de oferta e demanda com relação a 2007.

No Brasil, especialistas consultados pelo Estado trabalham com preços entre US$ 70 e US$ 75 para este ano, dependendo da intensidade da crise econômica norte americana.

¿Acredito que a cotação média de 2008 fique igual ou um pouco inferior à do ano passado¿, diz o consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE).

¿O preço de US$ 100 por barril estava muito exagerado¿, comenta uma analista de instituição financeira, que projeta um preço de equilíbrio de US$ 70 no atual cenário de oferta e demanda. Acima disso, as cotações passariam a refletir outro tipo de preocupação, como crises geopolíticas ou os humores do mercado financeiro.

¿O mercado (de petróleo) se tornou muito sensível a qualquer movimento nas bolsas¿, opina Linda Rafield, analista sênior da Platts, braço de pesquisa em energia da McGraw-Hill Cos. Nesse sentido, Pires lembra que não houve fator estrutural que justificasse nem a disparada das cotações rumo aos US$ 100 nem a queda atual.

Analistas concordam, porém, que nenhuma projeção feita hoje sobreviverá ao desenrolar da crise norte-americana. ¿Teremos de ver quão estimulante será a nossa política econômica¿, comenta Linda.

O corte de juros promovido pelo Federal Reserve (Fed), o banco central Americano, nesta terça-feira foi considerado insuficiente para evitar a recessão econômica na maior economia mundial, mantendo o clima de incertezas no mercado financeiro.

Caso a crise econômica se prolongue, a tendência é de manutenção do ritmo de queda nos preços das commodities, apontam os especialistas