Título: Pânico derruba bolsas no mundo
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2008, Economia, p. B1
O mercado financeiro enterrou ontem a tese do ¿descolamento¿, segundo a qual a economia global seria hoje menos dependente dos Estados Unidos. A percepção, agora, é de que o mundo poderá sofrer, e muito, com uma eventual recessão americana, o que provocou uma onda de pânico entre os investidores.
As bolsas de valores despencaram na Ásia, na Europa e na América Latina. Nos EUA, o mercado não funcionou por causa do feriado de Martin Luther King Jr. O Índice Xetra Dax, da Bolsa de Frankfurt, deslizou 7,16%, maior baixa desde os atentados ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001. Em Londres, o Índice FTSE-100 perdeu 5,48%. A Bolsa de Tóquio caiu 3,9% e a de Xangai, 5,1%.
O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) recuou 6,60%, maior queda desde 27 de fevereiro de 2007. O Índice Merval, da Bolsa de Buenos Aires, perdeu 6,27%. Na Bolsa de Lima, a queda de 8,38% do Índice IGRA foi a maior desde 1995.
¿Os recentes dados das economias desenvolvidas, como Japão e União Européia, colocaram em dúvida a tese do decoupling¿, disse o economista do banco JP Morgan Julio Callegari, citando a palavra inglesa que tem sido usada para descolamento.
¿A economia japonesa, que já teve um fraco desempenho em 2007, está desacelerando ainda mais¿, afirmou. ¿Na Europa, a inflação está em nível elevado, o que impede o banco central de cortar o juro (o que estimularia a atividade econômica).¿ Nesse cenário, disse Callegari, ¿crescem as incertezas sobre os países emergentes¿.
Os analistas que defendem a idéia do ¿descolamento¿ têm argumentado que o crescimento global seria pouco afetado pela desaceleração dos EUA graças ao vigor dos emergentes. A economia chinesa, por exemplo, avançou, em média, 11% nos últimos anos.
Apesar do pânico entre os investidores, Alexandre Póvoa, economista do Banco Modal, não se impressionou. ¿Havia um claro descompasso entre os preços dos ativos financeiros e os resultados dos indicadores econômicos¿, disse. Segundo ele, os investidores abraçaram várias teses nas últimas semanas, que acabaram não se confirmando. ¿Acreditava-se que os preços das commodities não cairiam, o que segurou um pouco a Bovespa¿, exemplificou. ¿Agora já se aceita essa idéia.¿
Poucos mercados de commodities funcionaram ontem, em razão do feriado nos EUA, mas, mesmo assim, ficou claro que as cotações do segmento começam a se deteriorar. O barril do petróleo, que chegou a superar US$ 100 no início do ano, fechou em US$ 87,50 em Londres. O ouro foi cotado por US$ 884,50 a onça-troy, menor valor em duas semanas.
Em Brasília, o presidente Lula disse que está de olhos ¿bem abertos¿ e garantiu que, se necessário, tomará medidas para evitar reflexos da crise dos EUA no Brasil.