Título: Quem não foi ao cassino não deve pagar a conta
Autor: Nossa, Leonencio; Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2008, Economia, p. B7

Lula cobra postura firme de Bush para que a crise não se alastre e diz que, se for necessário, vai adotar medidas para evitar reflexos no Brasil

Ao chamar a atenção para a responsabilidade dos Estados Unidos na atual crise financeira mundial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem que quem não participou do ¿cassino¿ americano para ¿ganhar dinheiro fácil¿ não deveria pagar a conta. Lula disse estar der ¿olhos muito abertos¿ para o problema, mas acrescentou que os EUA precisam ¿assumir¿ a responsabilidade de terem o maior PIB e evitar que a crise se alastre pelo mundo.

¿Os países da América Latina e da África passaram praticamente 30 anos sem crescer e agora encontraram o caminho¿, disse. ¿Não é possível que pessoas que não tenham casa nos Estados Unidos, não fizeram hipoteca, paguem a crise de irresponsabilidade de alguns que resolveram ganhar dinheiro fácil como se estivessem apostando num cassino.¿

Se for necessário, afirmou, tomará medidas para evitar reflexos na economia brasileira. Em entrevista à tarde, no Palácio do Planalto, ele avaliou que o País tem solidez para enfrentar as oscilações e cobrou do governo George W. Bush uma postura mais firme. ¿Por enquanto, estamos certos de que a crise é alguma frustração com o anúncio do pacote do Bush, que não contentou nem os americanos.¿

O presidente discutiu a situação com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. ¿Posso garantir que há tranqüilidade. O Brasil nunca teve a solidez que tem agora e uma certa reserva.¿ Ele não deu detalhes sobre as medidas que pode tomar para impedir que a crise atinja o País.

Lula disse não acreditar que o crescimento da economia do País será afetado e lembrou que os investimentos em infra-estrutura foram definidos no ano passado e as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), contratadas. ¿Não temos razão para não estarmos tranqüilos¿, afirmou. ¿Estou tranqüilo. Obviamente, temos de estar com os dois olhos muito abertos para saber o que vai acontecer com a economia americana e, conseqüentemente, na economia mundial.¿

Durante a posse do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o presidente voltou a falar sobre a crise. ¿Tenho lido muitos comentarias econômicos. Sabe o que me deixa triste? É que, às vezes, leio artigos de pessoas que parecem estar torcendo para que a crise crie problema para o Brasil¿, disse. ¿Tem determinado tipo de gente que não se conforma com as coisas dando certo no País, que as coisas andem bem, que o povo esteja vivendo um momento de otimismo como há muito tempo não vivia.¿