Título: Rebeldes estão foragidos desde 2006
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2008, Internacional, p. A12

Para analistas, morte de Reinado remove um obstáculo à paz no país

AP E REUTERS

Os rebeldes que atacaram o presidente timorense, José Ramos-Horta, vêm fugindo desde os violentos distúrbios de 2006, provocados pela decisão do então primeiro-ministro Mari Alkatiri de demitir cerca de 600 militares que protestavam por melhores soldos. O líder dos militares rebeldes, o comandante Alfredo Reinado, foi morto ontem durante o ataque a tiros contra Ramos-Horta.

Os soldados, a maioria da região oeste do país, diziam que eram discriminados por seus superiores, que eram do leste. Na ocasião, eles se amotinaram e começaram a protestar nas ruas de Díli. As manifestações foram se tornando cada vez mais violentas e levaram a confrontos entre gangues de soldados, policiais e jovens armados de diferentes partes do país, deixando 37 mortos.

Os distúrbios levaram 150 mil pessoas a deixarem suas casas. Elas temiam a retomada da violência que se seguiu após o referendo de 1999, quando a maioria dos timorenses votou a favor da independência da Indonésia.

Reinado era um militar treinado na Austrália e foi um dos vários comandantes que se juntaram à rebelião, comandando uma das facções rebeldes e exigindo que seus soldados fossem reintegrados ao Exército. Ele foi julgado à revelia por seu envolvimento nos violentos distúrbios. Foi preso, mas conseguiu escapar alguns meses depois.

Ramos-Horta, eleito presidente em agosto de 2007, reuniu-se várias vezes nos últimos meses com Reinado para convencê-lo a render-se, como parte de um diálogo intermediado pelo governo suíço. Reinado, porém, continuou a resistir, dizendo que levaria seus soldados para Díli se eles não fossem reintegrados ao Exército.

O atentado contra Ramos-Horta e a ocasião em que ele foi lançado deixa muitas perguntas sem resposta, pois a disputa de Reinado era principalmente com o ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri e seu partido, a Frente Revolucionária por um Timor Leste Independente (Fretilin) e nenhum dos dois está mais no poder.

Reinado também havia se referido de maneira positiva ao premiê Xanana Gusmão, quando ele era presidente. No entanto, Gusmão também foi atacado a tiros uma hora depois do atentado contra Ramos-Horta. Um motivo que pode ter levado Reinado a lançar os dois atentados é um novo julgamento contra ele, que estava marcado para começar no início de março.

Para Damien Kingsbury, um acadêmico australiano especialista em Timor Leste, a morte de Reinado removeu um obstáculo à paz no país. A empresa de consultoria americana Global Insight também qualificou a morte de Reinado como algo positivo para a segurança em Timor, mas advertiu que ainda há outros desafios, como as atuais disputas políticas entre o governo e o partido opositor Fretilin, assim como a rivalidade entre o Exército e as forças policiais.

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