Título: Minha frustração é não poder fazer milagres
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2008, Internacional, p. A12

Há dez dias, quando esteve no Brasil, o presidente do Timor Leste, José Ramos-Horta, concedeu a seguinte entrevista exclusiva ao Estado

Veja a íntegra da entrevista de José Ramos-Horta

A nomeação de Xanana Gusmão como primeiro-ministro provocou uma reação violenta no país. Como contornar isso?

Muitos líderes da Fretilin (Frente Revolucionária por um Timor Leste Independente) já morreram. No entanto, seus filhos e amigos acham que o partido deve governar ad infinitum. Em 2001, a Fretilin teve 57% dos votos. Em 2006, 29%. Formei uma coalizão com quatro partidos para governar e esses jovens sentiram-se traídos. Mas a violência não foi tanta.

A nomeação de Xanana foi absorvida pelo país?

Sim, viajei por vários locais onde houve violência. No mais problemático, só uma pessoa levantou a questão política. As outras falaram da necessidade de estradas e empregos.

O Timor criou um fundo com os royalties do petróleo. Como esses recursos são aplicados?

Esse fundo tem cerca de US$ 2 bilhões e é investido em bônus do Tesouro americano. O investimento é seguro, mas os juros são muito baixos - perdemos US$ 500 milhões em dois anos. O primeiro-ministro já ordenou um estudo sobre isso.

Como será o Timor em 20 anos?

O modelo viável é Dubai (nos Emirados Árabes). Também temos recursos minerais, petróleo e gás, mas nosso território é maior e podemos ser auto-suficientes em agricultura. Seríamos um centro financeiro para o Sudeste da Ásia.

Como o sr. lidará com as dificuldades orçamentárias de sua gestão?

Entre 2000 e 2001, consultores internacionais nos instruíram a adotar um sistema que só seria aplicável na Noruega. Isso tornou difícil para os ministros executarem o orçamento com celeridade. Com as mudanças que fizemos e a liderança do primeiro-ministro, teremos mais sucesso.

Qual o principal problema do Timor?

O mais grave é a pobreza. O orçamento deste ano prevê o pagamento de US$ 9 mil a US$ 10 mil aos veteranos da luta pela independência. Cada um receberá US$ 100 ao mês. Vamos eliminar impostos, dar apoio à agricultura e fazer obras. Mas isso leva tempo. Minha frustração é não ser Nossa Senhora de Fátima, para fazer milagres.

Links Patrocinados