Título: MW negociados em leilão serão entregues 1 ano antes
Autor: Monteiro, Tânia; Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2008, Economia, p. B11

Parte da energia de reserva a ser contratada em abril será fornecida em janeiro de 2009

Em mais um sinal de que está preocupado com a segurança do abastecimento de energia elétrica no ano que vem, o governo decidiu antecipar em um ano o início do fornecimento de parte dos megawatts que serão negociados no leilão de energia de reserva marcado para o dia 30 de abril.

Portaria publicada na edição de ontem do Diário Oficial da União determina que, na licitação, sejam oferecidos dois tipos diferentes de contrato: um prevê a entrega da energia a partir de 1º de janeiro de 2009, e outro, a partir de janeiro de 2010. Inicialmente, o governo planejava negociar nesse leilão apenas contratos que previam o início do abastecimento em 2010. O leilão será exclusivo para usinas que produzem energia a partir da biomassa.

Especialistas já alertam para os riscos de os reservatórios das hidrelétricas chegarem ao fim deste ano em um nível muito baixo, o que poderia causar dificuldades em 2009. Na semana passada, o governo anunciou que algumas usinas termoelétricas mais baratas poderiam permanecer ligadas durante todo o ano de 2008 para poupar água das represas nas principais hidrelétricas. Na sexta-feira o nível dos reservatórios das hidrelétricas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste estava abaixo da curva de aversão ao risco, referência do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para o volume mínimo de água nas hidrelétricas para abastecer o mercado com segurança.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, assegurou, porém, que a decisão de antecipar o início da entrega da energia de reserva não tem relação com a situação dos reservatórios das hidrelétricas. Segundo ele, o governo tomou a decisão porque havia disponibilidade para que essa energia entrasse no sistema mais cedo.

¿Existia um potencial para entrar energia a partir de 2009. Além disso, fizemos (a antecipação) a pedido dos produtores que fazem parte da Unica¿, disse Tolmasquim, referindo-se à União da Indústria de Cana-de-Açúcar, que reúne os maiores produtores de álcool e açúcar do País. Os usineiros deverão liderar o processo de produção de energia por meio da biomassa, utilizando o bagaço da cana-de-açúcar como matéria-prima para gerar energia elétrica.

A estimativa do governo é de que serão negociados pelo menos 2 mil megawatts (MW) no leilão marcado para 30 de abril. O Ministério de Minas e Energia colocou ontem em consulta pública proposta para a sistemática do leilão de energia de reserva.

A energia de reserva é uma espécie de seguro que será contratado pelas distribuidoras e poderá entrar no sistema quando houver um descompasso entre o consumo e o montante de energia contratado previamente pelas distribuidoras.

O custo da contratação desse ¿seguro¿ será repassado para as tarifas dos consumidores, mas, segundo o governo, o impacto não deverá ser muito grande. O governo argumenta que o primeiro leilão de reserva envolverá apenas as usinas de biomassa, que geram energia a um custo inferior ao de outras usinas termoelétricas que já estão em operação no sistema, como as que são movidas a óleo.