Título: Por aliança, Serra coloca Kassab e Alckmin no mesmo palanque em SP
Autor: Marchi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2008, Nacional, p. A4

Para evitar crise com DEM, governador vai convidar rivais na disputa pela prefeitura para inaugurações de obras

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), decidiu que convidará para inaugurações e eventos de seu governo seu antecessor no governo, o tucano Geraldo Alckmin, e seu sucessor na Prefeitura, Gilberto Kassab (DEM). O governador quer abafar o prenúncio de crise na coligação PSDB-DEM e criar uma evidência pública de que os dois mantêm boas relações, apesar de disputarem a mesma indicação - a de candidato da coligação à prefeitura.

Acima de tudo Serra quer demonstrar que, em meio à disputa dos dois, não pende para nenhum lado nem beneficia um em detrimento do outro. Por isso, quer a presença ostensiva dos dois, juntos, a seu lado.

Ele resolveu intervir firme na disputa entre Alckmin e Kassab, que tendia a azedar a relação dos dois, para garantir a preservação da aliança PSDB-DEM, que vem de 1994, quando o então candidato à Presidência Fernando Henrique Cardoso teve como vice o senador Marco Maciel (DEM-PE). Em 2002, a aliança foi interrompida no plano federal justamente por Serra, que agora a invoca, mas que à época escolheu como vice a deputada Rita Camata (PMDB-ES). No plano estadual a coligação foi preservada por Alckmin, que teve como vice Cláudio Lembo (PFL).

DESARMAR

A aliança foi o principal item da conversa entre Alckmin e Kassab no almoço de anteontem, na casa de José Henrique Lobo, secretário estadual de Relações Institucionais. A conversa, convocada por Lobo, foi pontuada por tópicos estratégicos.

O primeiro foi que os dois deveriam desmobilizar já os artefatos bélicos que seus aliados estavam armando. Na véspera, o Conselho Político do DEM se reuniu em São Paulo para mostrar força no apoio a Kassab, um gesto que os alckmistas interpretaram como uma provocação pública.

No desmonte das articulações, Kassab se comprometeu a amenizar a nota que vereadores aliados estavam preparando para apoiá-lo, transformando o texto agressivo já rascunhado num fraseado água-com-açúcar. Alckmin, por seu turno, assumiu o compromisso de desarmar seus aliados, a começar pela desmobilização de uma pré-rebelião de oito deputados estaduais que preparavam uma guerra em sua defesa.

O segundo ponto é que os dois concordaram em colocar a aliança PSDB-DEM acima das postulações de cada um. Lobo os induziu a reconhecer a aliança como valor maior em disputa. Sua argumentação foi facilitada pela conversa que Alckmin teve, na véspera, com Fernando Henrique. No encontro, pedido por Alckmin, o ex-presidente situou a aliança como um bem estratégico essencial para o PSDB e, a seu juízo, para o País. Em toda a segunda parte da conversa, Alckmin explicou suas intenções e FHC - que aconselhara a retirada da candidatura do ex-governador - apenas ouviu compenetrado.

O terceiro ponto acordado no almoço de anteontem foi que a coligação PSDB-DEM deverá ter apenas um candidato e que a escolha desse nome deve ser adiada até que um deles mostre mais viabilidade eleitoral que o outro. Nesse momento, quem estiver pior sairá da disputa. O prazo máximo para a escolha é maio.

Não se acertou, no entanto, que critérios vão mensurar essa viabilidade. Uma fórmula de óbvia visibilidade são as pesquisas de opinião. O DEM aposta nesse critério porque acha que a popularidade de Kassab subirá rapidamente a partir de agora.

EQUÍVOCO

Muita gente, no PSDB e no DEM, entendia que maio seria um mês adequado para definir candidato porque a rival mais temível - a ministra do Turismo, Marta Suplicy, do PT - teria de se desincompatibilizar até 5 de abril (seis meses antes da eleição, marcada para 5 de outubro).

Foi um equívoco: o inciso IV, do artigo 1º, alínea ¿a¿ da lei determina que os ministros de Estado têm de se desincompatibilizar até quatro meses antes da eleição. Marta tem, portanto, até o dia 5 de junho para deixar o ministério, se quiser concorrer.

O almoço convocado por Lobo foi prontamente aceito pelos litigantes. A conversa durou duas horas e meia (das 13 horas às 15h30), embalada por um cardápio variado - salmão com molho de maracujá e raviolini com mussarela de búfala. A entrada foi uma advertência de Lobo: ¿Vocês não são adversários. Vocês têm, isso sim, um adversário comum, a quem têm de derrotar juntos.¿

Feliz com a empreitada, Lobo disse ontem que daqui por diante a coligação PSDB-DEM vai atender a um axioma: a política é a arte de evitar a guerra. ¿A guerra é o esgotamento da atividade política¿, observou. Ao final, reconheceu que a conversa não superou o problema, mas o encaminhou: ¿Indicou um caminho que até então não estava claro¿, dis