Título: Anglo quer uma Carajás no Brasil
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2008, Negócios, p. B17

Com investimentos de US$ 16 bi, empresa pretende produzir 100 milhões de toneladas de minério por ano

A mineradora britânica Anglo American pretende atingir, em 10 anos, a produção de 100 milhões de toneladas de minério de ferro por ano no Brasil, ganhando escala suficiente para reduzir a concentração do mercado hoje em mãos da Vale, responsável por mais de 90% da produção nacional. O valor corresponde à produção estimada para este ano de Carajás, no Pará, o maior complexo de minério de ferro da Vale.

Segundo a presidente mundial da Anglo American, Cynthia Carrol, a meta vai exigir investimentos de US$ 16 bilhões no período. A executiva informou que a produção adicional será obtida, basicamente, da ampliação do projeto Minas-Rio, envolvido nas negociações com a MMX.

¿Vamos continuar explorando e perfurando no Brasil, mas o crescimento se dará pela Minas-Rio¿, afirmou Cynthia, em entrevista coletiva concedida na sede da empresa controlada por Eike Batista, no Rio. O otimismo da multinacional com o projeto pode dar pistas sobre o valor do negócio fechado com MMX, de US$ 5,5 bilhões. Esse valor foi considerado alto pelo mercado, .

¿Acreditamos que o preço pago pela Anglo American na aquisição dos dois sistemas (Minas-Rio e Amapá) tenha sido bastante elevado¿, disse, em relatório divulgado na sexta-feira, o analista Rodrigo Ferraz, do banco Brascan. Segundo cálculos feitos por Ferraz, a mineradora desembolsou pelo menos US$ 150 por tonelada de minério, sem contar com os investimentos necessários para desenvolver as jazidas. É quase o triplo dos US$ 56 por tonelada pagos pela própria MMX nas compras das mineradoras AVG e Minerminas, concluídas recentemente.

A grande diferença estaria relacionada ao potencial de crescimento do projeto Minas-Rio, na avaliação de uma fonte próxima às negociações entre os dois grupos. O projeto inicial, elaborado pela MMX, previa uma produção de 26,5 milhões de toneladas por ano, limitada pelo tamanho do mineroduto que ligará a jazida ao porto do Açu, no litoral Norte do Rio. Um novo mineroduto, porém, já está em estudo.

CRESCIMENTO

Segundo Cynthia, o Brasil terá papel preponderante no crescimento da Anglo American, que hoje tem apenas 3% do mercado mundial de minério de ferro, com uma produção de 31 milhões de toneladas. A companhia planeja atingir um volume de 150 milhões de toneladas em 10 anos, dos quais 100 milhões serão produzidos aqui. O restante virá, em sua maior parte, do projeto Kumba, na África do Sul, onde a Anglo concentra hoje sua produção de minério.

A presidente da multinacional disse não acreditar em grandes impactos da crise econômica americana no comércio mundial de minério de ferro. ¿O principal fator que impulsiona o mercado é a China, que vai continuar em processo de crescimento, vai continuar a urbanização e vai continuar dependendo de minério de ferro¿, avalia. Por outro lado, ela disse, a companhia vem buscando projetos com baixo custo de construção, para passar com mais folga por um ciclo de baixa nos preços.