Título: Vale negocia com Xstrata, com prudência
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2008, Negócios, p. B18
As ações da Vale caíram ontem 11% por causa da crise internacional e dos riscos ligados ao negócio
A Vale confirmou ontem que está negociando a compra da mineradora anglo-suíça Xstrata. Embora a empresa não comente valores, a proposta seria de US$ 90 bilhões - quase quatro vezes tudo o que a Vale já gastou em aquisições desde 2000, incluindo a canadense Inco, por US$ 18,2 bilhões, em 2006. A compra representaria mais que o triplo do recorde de investimento brasileiro no exterior em um ano - 2006 -, segundo o economista Antonio Corrêa de Lacerda.
Em um comunicado, a Vale informa que está mantendo contatos com a Xstrata ¿no contexto do processo de consolidação global da indústria de mineração¿, e que os entendimentos não chegaram ¿a qualquer resultado concreto¿. A expectativa é que a oferta demore alguns meses para ser concretizada.
A Vale também destacou, no comunicado, que analisará o negócio com cautela. ¿A Vale tem presente que as condições correntes do mercado internacional de capitais representam um grande desafio no contexto de qualquer movimento estratégico de porte e, portanto, manterá a postura de prudência que tem caracterizado sua gestão ao longo dos anos.¿
Embora não assumam abertamente o desejo de comprar a Xstrata, competidores da Vale teriam interesse no negócio. Ontem, a presidente mundial da Anglo, Cynthia Carrol, disse não descartar uma negociação, mas indicou que a prioridade é o crescimento orgânico.
¿O foco é na Anglo American. A empresa tem grande valor a ser desenvolvido, e é aí que focamos nossa atenção¿, afirmou a executiva, que concedeu entrevista no Rio para comentar a compra, na semana passada, de ativos da MMX. ¿Mas não fechamos as portas para nada.¿
No comunicado, a Vale informa que ¿continua a analisar outras opções envolvendo outras empresas do setor, igualmente sem qualquer conclusão¿. E confirma que tem discutido com instituições financeiras eventual apoio caso se concretize ¿alguma das opções que estão sendo avaliadas¿. Fontes próximas à Vale informam que a mineradora estaria terminando de formar consórcio de bancos para financiar a compra, incluindo Merrill Lynch, Lehman Brothers, HSBC, Credit Suisse, Citigroup e Santander.
Analistas financeiros dizem, porém, que as turbulências no mercado internacional podem ser um entrave aos planos da Vale. ¿O mercado está muito volátil. Uma troca de ações agora não seria tão simples assim¿, afirmou o chefe do departamento de análise do HSBC, Renato Onishi. As informações são de que a Vale poderia usar ações preferenciais como pagamento de parte da operação.
Onishi diz que, do ponto de vista operacional, a compra é um bom negócio. A Xstrata é forte em áreas em que a Vale não tem grande participação, como cobre, zinco, carvão e níquel. Para o banco Liberum Capital, a incorporação da Xstrata poderia trazer sinergias de US$ 1 bilhão ao ano. Ontem, as ações preferenciais da Vale caíram 11,3%, por causa da crise internacional e das preocupações com os gastos para a aquisição.