Título: Queda da mortalidade infantil
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2008, Notas e Informações, p. A3

O Brasil reduziu quase pela metade a taxa de mortalidade infantil entre 1990 e 2006, e, como os primeiros lugares são ocupados pelas nações com taxas mais elevadas, passamos da 86ª para a 113ª posição no ranking do relatório Situação Mundial da Infância 2007, feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Apesar do avanço, são grandes as disparidades entre as regiões brasileiras e entre os grupos étnicos e sociais. ¿Um país que consegue fazer acontecer, precisa fazer para todos os grupos¿, comentou a representante do Unicef no Brasil, Marie-Pierre Poirier.

A mortalidade entre as crianças negras brasileiras é 48% maior do que entre as brancas. Entre as indígenas, 138% maior. No Acre, Estado classificado em último lugar no ranking local, o Índice de Desenvolvimento Infantil (IDI), composto por itens como saúde e educação, é 0,562. O IDI de São Paulo é 0,856, considerado alto.

Dos 3 milhões de crianças que nasceram em 2005 no Brasil, 400 mil não foram registradas. Enquanto no Sul todos os bebês são registrados, no Norte 1 em cada 5 não o é. O número de crianças abrigadas em creches no Norte é a metade das que recebem esse tipo de atenção no Sudeste. Esses itens, além da saúde, também compõem o IDI.

É preciso, de fato, acabar com a disparidade. E fazer acontecer significa colocar em prática ações simples de prevenção, como a realização de exames pré-natais, de vacinação em massa, de programas de atendimento à saúde da gestante e do bebê - assegurado pelo SUS -, além da ampliação dos serviços de saneamento e das unidades de atendimento básico na rede pública municipal. A ampliação do Programa Saúde da Família (PSF) também contribui significativamente para reduzir os índices de mortalidade.

Essa fórmula foi aplicada nos últimos cinco anos pelo governo de São Paulo e por muitas prefeituras e levou o Estado a atingir, em 2006, o menor índice histórico de mortalidade infantil, conforme dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). Também no ranking do Unicef, São Paulo é o melhor classificado. As menores taxas de mortalidade do Estado são registradas na região de Campinas, que apresentou média de 10,2 mortes por mil nascimentos, conforme dados da Seade.

Na capital, a Secretaria Municipal de Saúde aumentou muito, nos últimos anos, o número de atendimento a gestantes. Em 2001, 51% das grávidas eram atendidas em sete ou mais consultas na rede de saúde municipal. Atualmente, mais de 75% delas fazem todos os exames do pré-natal. Para aumentar o interesse das famílias em participar das ações que proporcionam cuidados de saúde aos bebês, o Programa Mãe Paulistana oferece vale-transporte para as consultas, garante data e local para o parto e fornece o enxoval da criança.

Educação, informação e ações preventivas formam o tripé para a melhora do principal indicador de saúde pública. Embora todos os Estados brasileiros tenham apresentado melhora no índice, o risco de uma criança morrer antes dos 5 anos em Alagoas ou no Acre é três vezes maior do que em São Paulo ou Santa Catarina.

A falta de orientação e de ações preventivas contribui para o aumento do número de óbitos de crianças no período de 27 dias após o parto. Por falta de orientação, a maternidade é cada vez mais precoce e, nesses casos, quando o acompanhamento pré-natal é falho, muitos bebês não completam o primeiro mês de vida, vitimados por asfixia durante o parto e infecções.

Em reportagem publicada pelo Estado, na quarta-feira, uma jovem de 20 anos, grávida de sete meses, relata a morte do primeiro filho por falta de assistência no pré-natal e fala sobre as dificuldades encontradas há três meses para marcar uma consulta no Acre. Em São Paulo, num contraponto, uma mãe de 7 filhos descreve o bom atendimento na Santa Casa e na rede pública de ensino, dispensado a todas as suas crianças.

Ampliar o investimento em programas de acompanhamento da mãe e do recém-nascido e estender a assistência para os primeiros meses de vida do bebê são medidas essenciais.