Título: Em BH, tucanos fazem aliança com petistas
Autor: Marchi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2008, Nacional, p. A4

Os eventuais incômodos de Lula na campanha eleitoral de 2008 não se resumirão a enfrentamentos entre candidatos da base. Idiossincrasias estaduais podem criar situações desconfortáveis em pelo menos dois Estados importantes. A mais complicada delas é em Belo Horizonte, onde o governador Aécio Neves (PSDB) e o prefeito Fernando Pimentel (PT), que sempre se entenderam muito bem, combinaram lançar um candidato de consenso.

Pimentel desfruta de uma popularidade invejável na capital mineira, mas teme que o eleitorado, de repente, se dê conta de que o PT administra Belo Horizonte desde 1993 - agora, serão 15 anos. Aécio, que é dono da maior popularidade na capital mineira (mais do que Pimentel e Lula), também não quer correr o risco de lançar um candidato para o tudo ou nada. Os dois, na verdade, não têm bons nomes em seus partidos.

No momento, Pimentel está tentando operacionalizar o acordo dentro do PT, depois de obter a concordância de Lula. Deve encontrar resistências no ministro Patrus Ananias e no ex-secretário de Direitos Humanos Nilmário Miranda. Surgiu o nome do secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Mário Lacerda, mas contra ele pesa o fato de ser ligado ao ex-ministro Ciro Gomes. Aécio tem dito a amigos que só discutirá nomes com o prefeito depois que Pimentel vencer as resistências dentro do PT.

Em Goiânia, a situação de Lula será difícil. O atual governador, Alcides Rodrigues (PR), ligado ao senador Marconi Perillo (PSDB), de quem foi vice, apoiará o candidato do PT, que ainda não foi definido. E o atual prefeito, Iris Rezende (PMDB), tentará a reeleição. O PSDB apenas assiste à disputa.

No Recife, a situação de Lula é menos espinhosa porque o PMDB local, comandado pelo senador Jarbas Vasconcelos, não se considera da base aliada federal. O prefeito João Paulo (PT) tem candidato - o inexpressivo secretário de Planejamento Participativo, João da Costa. Mas os deputados Maurício Rands e Pedro Eugênio e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa almejam concorrer.

Em Curitiba, a provável candidata do PT será Gleisi Hoffmann, mulher do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e ex-diretora da Itaipu Binacional. Ela concorreria sozinha contra o prefeito Beto Richa (PSDB), que tem altos níveis de popularidade, mas o PMDB resolveu lançar candidato, a ser escolhido entre Reinhold Stephanes Filho, Carlos Moreira, reitor da Universidade Federal do Paraná, e o ex-deputado Rafael Greca.

No Ceará, o PT fechou em torno da prefeita Luizianne Lins, a quem o governador Cid Gomes (PSB) promete apoiar. Mas o PDT lançou a senadora Patrícia Saboya, que tem o apoio de Ciro Gomes, seu ex-marido. E ainda tem o nome do ex-governador Lúcio Alcântara (PR), para atrapalhar mais.

Em Aracaju, tudo corria às mil maravilhas. O governador Marcelo Déda (PT) fechou todos os partidos da base no apoio à reeleição de Edivaldo Nogueira (PC do B), seu antigo vice. Mas agora o senador Almeida Lima (PMDB), que se notabilizou defendendo Renan Calheiros (PMDB-AL) no Senado, se declarou candidato.