Título: Jobim vai a França e Rússia discutir reequipamento
Autor: Godoy, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2008, Nacional, p. A13

Tema central da viagem será desenvolvimento de submarino nuclear

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, vai à França e à Rússia para discutir acordos de cooperação, visitar fabricantes de sistemas militares e, sobretudo, tratar do desenvolvimento do submarino nuclear de ataque. Na terça-feira, Jobim vai conhecer a base naval de Toulon e visitar um submarino atômico da frota francesa. Um dia antes, despacha com Jean Poimboeuf, o presidente do DCNS - estaleiro responsável pela construção desses navios. Brasil e França mantêm um tratado que prevê acesso a tecnologias sensíveis.

Segundo o ministro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ¿aprovou as linhas da agenda de conversações¿, em reunião realizada no Palácio do Planalto há três dias. Fornecedores franceses querem vender ao Brasil o submarino Scórpene, diesel-elétrico, de 1.700 toneladas, e o caça de quinta geração Rafale, capaz de voar a 2.125 km/hora transportando 8 toneladas de armas. O processo FX-2, do Comando da Aeronáutica, prevê a aquisição de até 36 supersônicos - ¿a seleção, mas não a encomenda, deve sair até dezembro¿, disse o ministro.

O pacote prevê a instalação na fábrica da Helibrás, em Itajubá, Minas Gerais, da linha mundial dos helicópteros Panther e de sua versão civil, o Dauphin. A empresa brasileira é controlada pela Eurocopter e a médio prazo poderia projetar um modelo próprio. Há propostas do poderoso grupo EADS, o maior complexo europeu de defesa, aeronáutica e espaço, para instalar no Rio um centro de engenharia de mísseis - inicialmente destinado à modernização da classe Exocet, do tipo ar-mar e mar-mar.

Jobim desembarca amanhã às 6h40 no discreto terminal aéreo de Le Bourget, em Paris. Na terça-feira será recebido pelo presidente Nicolas Sarkozy no Palácio do Eliseu. Diplomatas destacam esse compromisso como um indicador da importância que o governo francês confere a um eventual contrato com o Brasil na área de defesa. Normalmente, afirmam esses funcionários, Jobim seria recebido pelo ministro da Defesa, Hervé Morin. A comitiva inclui o assessor de Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, o ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, e o almirante Júlio Soares de Moura Neto, comandante da Marinha.

Para Jobim, essa ¿não é uma viagem de compras, mas de conhecimento e consultas¿. Ainda assim, o primeiro item do roteiro é uma reunião com o banqueiro François Dossa, presidente do Societé Generale Bresil. ¿Em todas as etapas a conversa será aberta, claro. Mas qualquer diálogo sobre a questão de materiais só será possível se tomar como premissa inafastável a transferência de tecnologia¿, afirmou. ¿Desenhado o plano estratégico, a definição dos equipamentos passará obrigatoriamente pela abertura do conhecimento. Mesmo que na opção a oferta fechada custe menos e a aberta, que represente desenvolvimento do parque industrial nacional, custe mais, vamos para a mais cara.¿

Na Rússia, a partir de 1º de fevereiro, o grupo cumpre programação mais restrita, em bases e estaleiros navais. Jobim deve assistir à exibição do caça Su-35, com o qual a Sukhoi pretende disputar a FX-2. Em Moscou vai se encontrar com o vice-presidente Serguei Ivanov e com o ministro da Defesa, Anatoliy Serdyukov. No dia 6, antes do regresso a Brasília, Jobim faz escala em Madri para jantar com um de seus antecessores, o embaixador na Espanha, José Viegas Filho.