Título: Davos não vê ameaça nos fundos soberanos
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2008, Economia, p. B3

Para a maioria, eles não afetam estabilidade global

Os fundos de investimento soberanos não são uma ameaça à estabilidade financeira global, a julgar pela maior parte das opiniões durante debate sobre o tema ontem, no Fórum Econômico Mundial.

Os fundos soberanos, que já acumulam de US$ 2,5 trilhões a US$ 3 trilhões, são fundos de investimentos com reservas de grandes países exportadores, especialmente de petróleo.

No mundo desenvolvido, e mais especificamente nos Estados Unidos, há grande desconfiança em relação à compra de empresas nacionais por fundos controlados por governos estrangeiros de países muitas vezes não democráticos, e com muito pouca transparência. Alguns dos maiores fundos soberanos estão em países como Abu Dabi, Noruega, Cingapura, Kuwait, China e Rússia.

Recentemente, esses fundos entraram no foco da mídia pelas aquisições de nacos de bancos americanos em dificuldades, como na compra de um pedaço de US$ 7,5 bilhões do Citicorp por um fundo soberano do Abu Dabi.

Durante o debate, intitulado ¿Mitos e Realidades dos Fundos de Investimento Soberanos¿, Stephen Schwarzman, principal executivo do Blackstone Group, de gestão de recursos, disse que ¿na nossa experiência, não há virtualmente nenhuma diferença entre investimentos em um fundo soberano e um fundo de pensão estatal nos Estados Unidos¿.

Segundo Robert Kimmitt, vice-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, apesar da frustrada tentativa de uma entidade de Dubai de comprar as operações portuárias americanas (barrada pela comoção popular e política que provocou), o governo dos EUA aprovou mais de 200 aquisições de ativos do país por fundos soberanos. ¿Pelo que pudemos notar, esses investimentos foram feitos em bases políticas, e não comerciais, e são bem-vindos.¿

Com a alta dos preços de petróleo, a perspectiva é que os fundos soberanos continuem a aumentar, e possam atingir um volume de US$ 10 trilhões a US$ 15 trilhões, o que os colocaria no mesmo tamanho do setor de fundos mútuos dos EUA. No debate, Richard Fuld, principal executivo do banco de investimentos Lehman Brothers, observou que, se forem contabilizados com os chamados fundos de estabilização cambial, os fundos soberanos já atingiriam hoje a cifra de US$ 8 trilhões.

REGULAMENTAÇÃO

O grande debate atual é sobre a natureza pouco transparente de muitos fundos soberanos e se eles deveriam ser submetidos a uma regulamentação especial.

Os gestores de fundos soberanos consideram as suspeitas absurdas e infundadas.

¿A atitude parece ser a de que os investidores soberanos são culpados, até que provem sua inocência¿, disse Muhammad S. Al Jasser, vice-governador da Agência Monetária da Arábia Saudita. Bader Al Sa¿ad, diretor-gerente da Autoridade de Investimento do Kuwait, notou que, ao contrário dos fundos de hedge, os fundos soberanos não se caracterizam por apostas arriscadas, que podem trazer instabilidade aos mercados.

¿Vocês já viram algum fundo soberano, com alavancagem de 20 a 30 vezes (o seu capital), forçar um banco central a desvalorizar a sua moeda?¿, alfinetou Al Jasser.

A referência foi aos ataques especulativos que forçaram tantos países a abandonar sistemas fixos e semifixos de câmbio na década de 90, com destaque para o caso da libra esterlina em 1992. Ironicamente, o responsável por esse ataque especulativo é o investidor George Soros, participante habitual do Fórum e um dos mais ácidos críticos da globalização.

Mas nem todas as críticas são baseadas em crenças populistas atiçadas por políticos interessados em explorar a bandeira nacionalista. Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro americano e reputado economista, é um dos que defendem uma maior regulamentação. Segundo ele, os fundos soberanos deveriam aderir a um código de conduta, no qual deixassem claro que evitariam abusos especulativos e decisões políticas.

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