Título: Petróleo - a ANP informa bem?
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2008, Economia, p. B2

O relatório mensal sobre o mercado mundial de petróleo da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), distribuído dia 16/1, contém uma menção muito positiva e outra muito negativa sobre o Brasil. O País deverá ser o maior contribuinte individual do aumento da produção de petróleo, em 2008, entre os que não fazem parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). A oferta brasileira deverá aumentar em 300 mil barris/dia, ou seja, 30% do aumento da oferta dos não membros da Opep.

Mas o relatório adverte que as estatísticas brasileiras deixam a desejar. E isso é pouco compatível com a crescente importância do País como produtor e com a inclusão da Petrobrás entre as seis maiores empresas petrolíferas do mundo, acima da British Petroleum, da Total, da BHP Billiton e da Chevron.

Na página 17 do texto da IEA se lê: ¿Como foi observado no último relatório mensal, a divulgação dos dados sobre a demanda de óleo do Brasil tem sido errática desde o início de 2007.¿

Nos meses seguintes ¿à divulgação dos dados de março a agosto no Joint Oil Data Initiative (Jodi) a Agência Nacional do Petróleo (ANP) publicou as séries que faltavam de alguns produtos específicos (gasolina, diesel e etanol) sobre o período março/junho. Os novos dados permitiram a correção das anomalias implícitas nas estatísticas do Jodi¿.

O Jodi é um mecanismo de consulta criado no início dos anos 90, num período de turbulência do mercado internacional de petróleo. No Jodi está a maioria dos países consumidores interessados em avaliar a oferta e a demanda globais para evitar os riscos de flutuações bruscas nos preços dos derivados, que pesam muito nos índices de inflação do consumidor.

Segundo a IEA, não há mudanças na avaliação da demanda total, estimada, no Brasil, em 2,3 milhões de barris/dia em 2007 e em 2,4 milhões de barris/dia em 2008, com crescimento da taxa ano a ano de 3,3%. Mas, diz o relatório, ¿estes cálculos dariam um salto para ser ajustados de novo se a ANP retomasse a oportuna e pronta divulgação dos dados da demanda¿.

A divulgação de dados confiáveis é crucial para os consumidores. Nos últimos anos, o mercado de petróleo tem sido objeto de intensa ação especulativa nas bolsas de commodities, que poderia ser atenuada com informações transparentes. Cabe indagar se a ANP vem recebendo os dados atualizados de produtores e distribuidores e se tem o poder de exigi-los.