Título: Representante da Opep ataca produção do etanol
Autor: Caminoto, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2008, Economia, p. B4

Al-Attiyah, que também é ministro do Catar, diz que produto é altamente subsidiado

O uso do etanol como alternativa energética foi alvo de fortes críticas feitas ontem por um graduado representante da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

Abdulla Bin Hamad al-Attiyah, vice-primeiro-ministro do Catar, disse que a produção de etanol é fortemente subsidiada pelos governos. Ele citou uma reportagem publicada no ano passado pelo jornal Financial Times, que calculou que o barril de etanol custaria cerca de US$ 130 sem o apoio oficial. Além disso, Al-Attiyah disse que a produção de etanol e outros biocombustíceis está provocando uma alta dos preços dos alimentos em todo o mundo, prejudicando as populações mais pobres. ¿O que é melhor: dirigir ou comer?¿, ironizou Al- Attiyah durante uma entrevista coletiva à imprensa na qual foram apresentados os resultados da ¿Cúpula de Energia¿, encontro paralelo ao Fórum Econômico Mundial que reuniu autoridades e analistas.

Ao tomar conhecimento da presença de jornalistas brasileiros, o representante da Opep tentou atenuar suas declarações. ¿Nós sempre defendemos a mistura de biocombustíveis como o etanol aos combustíveis tradicionais, e os subsídios mencionados pelo Financial Times referem-se à produção de etanol nos Estados Unidos e na Europa e não ao de cana-de-açúcar do Brasil de meu amigo presidente Lula¿, afirmou Al-Attiyah, que também é o ministro de Energia do Catar.

¿Mas está mais do que claro que o uso de terras para a produção de etanol está ajudando a encarecer os preços dos alimentos, estamos sentindo isso em nosso próprio país.¿

Apesar dos esforços do governo brasileiro em pôr o etanol no topo da agenda global sobre combustíveis alternativos, a Cúpula de Energia o relegou a um segundo plano. Tanto que na entrevista à imprensa na qual foram apresentados os resultados do encontro, o seminário sobre biocombustíveis não tinha ainda sido realizado.

Um dos coodenadores da reunião, o executivo-chefe do grupo Shell, Jeroen van der Veer, disse que ¿houve algumas discussões sobre o uso de etanol¿ sem dar maiores detalhes.