Título: Ameaça de recessão não freia subida dos preços do petróleo
Autor: Caminoto, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2008, Economia, p. B4

Para participantes da `Cúpula de Energia¿ em Davos, barril vai manter alta

Apesar da ameaça de recessão nos Estados Unidos, e da inevitável desaceleração do crescimento econômico mundial, os preços do petróleo vão continuar elevados e voláteis, podendo até subir ainda mais, pressionados pela crescente demanda em países emergentes como a China e a Índia nos próximos anos.

Essa foi a principal conclusão da ¿Cúpula de Energia¿, evento paralelo ao Fórum Econômico Mundial, que reuniu autoridades, executivos de grandes empresas petrolíferas e analistas do setor energético. ¿O consenso é que os preços do petróleo não vão cair¿, disse ao Estado o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, um dos participantes. ¿O que ninguém sabe é se eles podem subir mais, e quanto.¿

O economista-chefe da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol, ressaltou que os preços do petróleo voltaram a subir para acima dos US$ 90 por barril nos últimos dias, apesar das incertezas em torno da economia americana e do recente estresse que assolou os mercados financeiros. ¿Esse é um sinal importante, pois mostra que, mesmo com o risco de recessão, os preços continuam subindo de volta com facilidade¿, disse Birol.

¿Estamos diante de uma nova ordem energética mundial na qual a China e a Índia vão determinar a demanda de energia e as empresas petrolíferas estatais estão se tornando dominantes no lado da oferta.¿ A única opinião discordante sobre a tendência dos preços foi do economista Kenneth Rogoff, da Universidade de Harvard. Ele prevê que uma recessão nos Estados Unidos terá um impacto relevante no consumo de commodities em todo o mundo.

¿O preço do barril do petróleo deve cair para cerca de US$ 75 com a queda no consumo¿, disse Rogoff. ¿E, se o dólar não estivesse tão fraco e a inflação tão elevada, a queda seria ainda maior, para um pouco abaixo dos US$ 70.¿ O economista alertou, no entanto, que a ¿volatilidade nos preços vai continuar durante muitos anos¿.

OPEP

A possibilidade de a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) elevar sua produção para aliviar o aperto entre a demanda e a oferta mundial foi, mais uma vez, descartada por um dos representantes do cartel presente no evento, o vice-primeiro-ministro do Catar, Abdulla Bin Hamad Al Attiyah. ¿Nós vamos produzir a quantidade de petróleo que sabemos que as pessoas vão consumir, e não disponibilizar mais do que o necessário¿, afirmou.

Al Attiyah atribui os preços elevados à especulação nos mercados financeiros. Mas Birol discordou e aproveitou para alfinetar a Opep. ¿Os preços estão elevados porque o consumo está crescendo e a oferta é limitada¿, disse o economista da AIE. ¿A especulação apenas amplifica essa tendência.¿

A necessidade de pesados investimentos no setor, principalmente em energias alternativas e renováveis, também foi um tema de destaque no encontro. ¿Se não encontrarmos uma estrutura certa, que leve em conta o balanço entre o aumento da demanda e a necessidade de energia limpa, teremos sérios problemas no futuro próximo¿, alertou Birol.