Título: FMI precisa atuar na prevenção de crises
Autor: Kuntz,
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2008, Economia, p. B5
Para Strauss-Kahn, Fundo terá de estender sua influência aos EUA
O Fundo Monetário Internacional (FMI) precisa ampliar seu papel, ajustar-se ao mundo globalizado e contribuir mais efetivamente para a prevenção de crises como a do mercado hipotecário, segundo o diretor-gerente da instituição, Dominique Strauss-Kahn. Para isso, acrescentou, o FMI terá de ir além da supervisão dos países em desenvolvimento e estender sua influência aos Estados Unidos e aos demais países do mundo rico.
O francês Strauss-Kahn assumiu o posto em 1º de novembro com o compromisso de levar adiante e aprofundar a reforma apenas iniciada por seu antecessor, o espanhol Rodrigo de Rato. A reforma deve incluir uma redistribuição do poder de voto entre os países sócios, uma reestruturação das finanças da instituição e a montagem de um sistema de supervisão multilateral.
Tradicionalmente, o Fundo Monetário mantém entendimentos apenas bilaterais, acompanhando as condições econômicas e financeiras de cada sócio, com atenção especial para as contas fiscais, a política monetária e o balanço de pagamentos, e oferecendo financiamento para programas de ajuste. Em geral, os países assistidos - e mais sujeitos à sua influência - são os países em desenvolvimento. Os críticos do FMI, admitiu Strauss-Kahn, têm razão quando se referem a essas limitações.
NOVA REALIDADE
O mundo mudou, as limitações persistiram e a crise das hipotecas de baixa qualidade, iniciada nos Estados Unidos, foi mais uma prova da inadequação do FMI aos novos tempos. Esse fato foi enfatizado em Davos, nesta semana, por participantes do Fórum Econômico Mundial.
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, chamou a atenção, ontem de manhã, para a desatualização das instituições multilaterais, criadas nos anos 40 para atender a uma realidade muito diferente da atual.
Num almoço de participação restrita, horas depois, Strauss-Kahn reafirmou - sem mencionar Gordon Brown e talvez sem saber de seus comentários - a necessidade de ajustar a instituição aos novos tempos, até porque, argumentou, ninguém espera um recuo da globalização. Ele fez uma defesa parcial, no entanto, da atuação do FMI em relação à crise das hipotecas: lembrou as advertências publicadas no ano passado em documentos da instituição, como o relatório sobre a estabilidade financeira internacional.
Strauss-Kahn reafirmou também a pretensão de levar a reforma política do Fundo além da redistribuição de cotas e de poder de voto. Estados Unidos e alguns outros países do mundo rico, lembrou, estão super-representados, enquanto muitas economias em desenvolvimento têm um peso desproporcionalmente pequeno. Mas a reforma, acrescentou, será pobre de conseqüências, se ficar restrita a uma nova divisão de cotas.
Fará pouca diferença, exemplificou, ampliar o poder de voto do Brasil de 1,4% para 1,6%. Dar à reforma um escopo maior será, portanto, uma de suas tarefas mais complicadas.