Título: Davos debate desvio econômico para o Oriente
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2008, Economia, p. B5

Embora o poder econômico se incline para China e Índia, o político permanece no Ocidente

O poder econômico global está passando por um brutal desvio em direção ao Oriente, com a emergência da China e da Índia como potências econômicas. O poder político, porém, continua concentrado nas mãos ¿dos países que venceram a 2ª Guerra Mundial há mais de 60 anos¿, como disse durante o Fórum Econômico Mundial Kishore Mahbubani, reitor da Escola de Política Pública Lee Kuan Yew, de Cingapura, e ex-representante do seu país na Organização das Nações Unidas (ONU).

Mahbubani, que se descreve como um asiático ¿sem a típica modéstia oriental¿, está finalizando um livro que terá como título `O Novo Hemisfério Asiático: A Virada Irresistível do Poder Global para o Oriente¿. Ele participou ontem em Davos de um debate televisado pela BBC que deveria tratar dos choques que abalam a economia global, mas acabou tendo como principal destaque o consenso em relação à gigantesca mudança econômica e geopolítica que está ocorrendo no mundo neste exato momento.

Palaniappan Chidambaram, ministro das Finanças da Índia, que participou do debate, notou que a emergência da Ásia não é uma novidade histórica, mas sim um retorno à situação que existia antes da Revolução Industrial, quando China e Índia representavam um enorme pedaço da economia mundial. A diferença, porém, entre a ascensão espetacular dos países ocidentais a partir do século 19 e a fenomenal decolagem atual da Ásia é que o processo ganhou uma aceleração que ninguém antecipava. Mahbubani citou estudos recentes que mostram que durante a Revolução Industrial a renda das pessoas dobrou a cada período equivalente a uma vida humana. Na China, nos últimos anos, este aumento de renda durante o espaço de uma vida humana é de 100 vezes.

`DEBATE ESTÉRIL¿

Este aumento de poder econômico, porém, ainda não foi acompanhado pelo poder político, como fica claro na composição do G-8, o grupo das sete principais nações desenvolvidas e da Rússia. Durante o debate, John Snow, ex-secretário de Tesouro dos Estados Unidos disse que ¿não dá mais para discutir os problemas do mundo apenas com os países do G-8, é um debate estéril¿.

Snow repetiu várias vezes que o crescimento da Ásia é muito bem-vindo pelos Estados Unidos, que apostam no aumento da prosperidade global como o melhor caminho para a estabilidade geopolítica e para aumentar a demanda pelos produtos americanos. Ele admitiu, no entanto, que os ventos da política americana, nesta fase de seleção dos candidatos democrata e republicano para eleição presidencial, estão soprando numa direção bem contrária ao que ele defende, com a ascensão do discurso protecionista.

Os representantes da China e da Índia no debate buscaram colocar algum freio no entusiasmo em relação à ascensão dos seus países, lembrando que ainda há muito terreno a percorrer antes de alcançar o nível de desenvolvimento do Ocidente rico.