Título: Bolsas caem com incerteza de corte de juros nos EUA
Autor: Fortunato, Patrícia; Milanese, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2008, Economia, p. B6

Para mercado, Fed não fará redução necessária agora que sabe que fraude no SocGen contribui para a crise

Durou pouco a trégua do mercado financeiro por causa do pacote anti-recessão dos Estados Unidos, divulgado no início da semana. Ontem, depois de passar quase o dia inteiro em terreno positivo, as bolsas internacionais não resistiram às incertezas sobre o rumo dos juros americanos e notícias ruins no setor financeiro.

Em Wall Street, o índice Dow Jones fechou em queda de 1,38%, depois de subir 0,86% no meio do dia. O movimento foi ainda mais intenso na bolsa eletrônica Nasdaq. Na máxima do dia, chegou a avançar 2%, mas terminou o pregão em queda de 1,47%. As bolsas européias acompanharam Wall Street e também encerraram o dia em baixa, em mais uma sessão de forte volatilidade nos mercados globais. Em Londres, o índice FTSE recuou 0,12%. Em Paris, o PCAC declinou 0,76% e o DAX, de Frankfurt, recuou 0,06%. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) não operou ontem por causa do aniversário da cidade e apenas deve repercutir as notícias na segunda-feira.

O dia começou positivo, especialmente depois de a Microsoft anunciar crescimento de 79% no lucro do segundo trimestre fiscal e fazer projeções positivas para os gastos dos consumidores americanos. Na Europa, a bolsas continuavam a repercutir a confirmação do plano de incentivo à economia americana na quinta-feira. Mas, de repente, o humor mudou.

O principal temor é que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não diminua o juro na medida necessária para conter a recessão. Os contratos futuros de Fed Funds reduziram de 76% para 44% a chance de corte de 0,50 ponto porcentual no juro, na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) que ocorre nos dias 29 e 30. Os economistas estão preocupados com a análise que o Fed fará sobre a fraude de 5 bilhões no Societé Generale (SocGen), tornada pública na quinta-feira.

As informações divulgadas até agora apontam que o Fed não sabia da situação do banco francês ao, antecipadamente, reduzir os juros americanos em 0,75 ponto porcentual, para 3,5% ao ano. Na avaliação da autoridade monetária, a histeria nos mercados era fruto dos riscos provocados pela crise de crédito e poderia levar a maior economia do mundo para uma recessão.

Mas, na segunda-feira, o SocGen começou a reverter suas posições fraudulentas, o que colaborou com as pesadas quedas do início da semana. ¿Agora está claro que o Fed entrou em pânico ao cortar os juros em 75 pontos-base por causa da ação de um trader enganador e da reversão de posição do banco¿, disse um dirigente de hedge fund, em Londres.

Outro fator que provocou queda nas bolsas americanas foi a notícia de que o Goldman Sachs banco vai cortar 5% de sua força global. Em comunicado, o banco afirmou que os cortes referem-se aos 5% de funcionários com pior desempenho individual e que tal redução de pessoal ocorre anualmente.

Para aumentar a lista de especulações, há riscos de atraso na introdução do pacote de incentivo à economia americana. O problema é que democratas no Senado, incluindo o chairman da Comissão de Finanças, Max Baucus, querem adicionar itens ao projeto, potencialmente desacelerando a aprovação da medida. Alguns democratas estão pedindo uma extensão do auxílio-desemprego e aumento nos gastos com infra-estrutura.