Título: Ações de empresas novatas na Bolsa são campeãs em perdas
Autor: Cançado, Patricia
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2008, Economia, p. B1

Ações das 50 empresas de maior liquidez que abriram capital a partir de 2004 caem duas vezes mais que Ibovespa

A crise financeira global está sendo impiedosa com as novatas da Bolsa de Valores de São Paulo. No ano, as ações das 50 empresas de maior liquidez que abriram capital a partir de 2004 - quando se iniciou um novo e próspero ciclo de negociações - estão caindo quase duas vezes mais que o Ibovespa. Até 24 de janeiro, último dia de atividade na semana passada, a queda acumulada já era de 19,45%.

Não que essas empresas sejam piores que as veteranas. A principal explicação para o fenômeno é outra: a proporção de investimento estrangeiro era muito maior nas novatas. ¿Como a fuga de capitais foi muito concentrada nos papéis de estrangeiros, essas empresas sofreram mais que as outras¿, diz o gerente de análise do Modal Asset, Eduardo Roche.

Antes da crise, a participação dos estrangeiros nas ações das estreantes era, em média, de 75%, segundo a Bovespa. No começo da semana passada, o porcentual estava em 52%. A BM&F é considerada o caso clássico. Até quarta-feira, as ações já haviam caído 45%.

Além do efeito psicológico de ver o valor de mercado de suas empresas despencar da noite para o dia, os acionistas e executivos são obrigados a rever os planos de negócios. ¿As companhias com necessidade urgente de caixa, seja para fazer aquisições, para reestruturar uma dívida ou simplesmente pagar as contas, serão claramente afetadas¿, explica Roche. ¿Até então, ir à Bolsa era um jeito mais barato para as empresas levantarem recursos. Agora não é mais.¿

A construtora MRV foi uma das estrelas da Bovespa em 2007. Suas ações chegaram a ser cotadas por R$ 44. Na quinta-feira, eram negociadas por R$ 30. ¿A primeira reação é: cadê o meu dinheiro? Para nós, o maior efeito é psicológico. Ninguém recebe essa mensagem impávido¿, diz o diretor de Relações como o Investidor da MRV, Leonardo Corrêa. ¿Quando a empresa era fechada, certamente seu valor caía em tempos de crise. A única diferença é que você não sabia o quanto, pois não tinha um medidor.¿

A empresa tem um horizonte razoavelmente tranqüilo. Captou R$ 1 bilhão na Bolsa em julho do ano passado e tem dinheiro para cumprir a promessa feita ao mercado: fazer em 2008 o dobro de lançamentos do ano passado. ¿Eu não estou preocupado se o mercado está aberto ou não porque não preciso de dinheiro agora. Mas nem todas as empresas imobiliárias estão com o caixa cheio e o mercado em 2008 vai exigir muito investimento¿, avalia Corrêa.

O caso da Natura é mais dramático. As ações da companhia, uma das pioneiras da retomada da Bolsa, começaram a cair em janeiro do ano passado e nunca mais se recuperaram. A Natura estava entre as maiores baixas do Ibovespa em 2007. Ao lado dela, figuram Cosan, TIM, Gol e TAM.

Entre as cinco, apenas a TIM não faz parte do grupo de novatas da Bolsa.

A Natura estava sendo punida pelos investidores por entregar resultados aquém do prometido. Quando veio a crise, criou-se a tempestade perfeita. O que já era ruim ficou pior: na quarta-feira, seus papéis foram cotados por R$ 14,70, praticamente metade de um ano atrás.

Antes das turbulências no mercado financeiro, a Gol também vivia seu inferno particular. A queda das ações após a crise aérea incomodou a família, que chegou a pensar em fechar o capital da companhia. Para os Constantinos Oliveira, como os papéis estavam muito baratos essa poderia ser uma boa oportunidade de investimento. Seria também uma porta de saída para acionistas em busca de liquidez.

O vazamento da informação e a repercussão negativa no mercado abortaram o projeto. Os acionistas chegaram a recomprar uma parte das ações, mas, no curto prazo, ao menos, não pretendem dar seqüência a esse movimento. A desvalorização das ações limita o acesso a uma importante fonte de capital para investimentos. No caso da Gol, isso não é um problema, pois a empresa já está capitalizada.

BALANÇO DO PREGÃO

19,45% foi a queda, no ano, das ações que compõem o índice das 50 empresas de maior liquidez que fizeram IPO a partir de 2004

75% era a média de participação de investidores estrangeiros nos IPOs no ano passado. Neste ano, estava em 52%

R$ 14,70 foi o valor da ação da Natura na quarta-feira passada, metade de um ano atrás

R$ 25 milhões era a dívida da construtora Moura Dubeux em junho de 2007, valor que seria quitado com dinheiro do IPO adiado por causa da crise financeira global

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