Título: Crise abala credibilidade das agências de risco
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2008, Economia, p. B3

Autoridades financeiras reunidas na Suíça acusam responsáveis pela classificação de riscos de crédito

As agências de classificação de risco (rating) foram alvo de críticas no Fórum Econômico Mundial de Davos, encerrado ontem. Coincidindo com uma das piores turbulências nos mercados em décadas, o tradicional encontro da nata financeira global foi pleno de avaliações negativas sobre o papel dos reguladores, e boa parte das recriminações direcionou-se às agências de rating. Seu pecado foi atribuir ótima classificação de risco a operações complexas que, uma vez estourada a crise em meados do ano passado, revelaram-se arriscadíssimas, baseadas em péssimos ativos, e que provocaram enormes prejuízos.

Em um debate realizado na sexta-feira, Raymond W. McDaniel Jr, chairman e principal executivo da Moody¿s, uma das duas principais agências de rating do mundo, viu-se literalmente interrogado pelos demais participantes. Nesta situação, McDaniel Jr. admitiu que as agências são parcialmente responsáveis pelos estragos no mercado de crédito. ¿Em retrospectiva houve uma falha em alguns dos pressupostos básicos com os quais damos suporte às nossas análises, em parte porque a qualidade da informação, tanto em relação a serem completas quanto a serem verdadeiras, estava se deteriorando de uma maneira que foi bastante subestimada pela Moody¿s e por outras agências.¿

Com ar contrito, o chairman da Moody¿s ouviu Malcom Knight, diretor-gerente do Banco para Compensações Internacionais (BIS, o chamado ¿banco central dos bancos centrais¿) dizer que as agências deveriam melhorar a transparência e facilidade de compreensão das suas análises e dar destaque a questões como risco de mercado e liquidez dos títulos que analisam e classificam.

Pouco antes McDaniel havia explicado que o mercado e o público em geral extrapolam em suas conclusões sobre o que um rating significa, já que as notas das agências referem-se apenas ao risco de crédito - isto é, se os juros e pagamentos dos títulos serão realizados nos prazos e condições contratadas. Problemas de liquidez ou desvalorizações do título antes do prazo de resgate não são aspectos julgados na nota do rating, explicou Mc Daniel, ressalvando, porém, que as agências publicam análises sobre aquelas questões.

Knight, do BIS não ficou satisfeito com estas desculpas e criticou o que chamou de ¿balcanização¿ das instituições reguladoras, observando que, apenas nos Estados Unidos (EUA), há um total de 53 reguladores nos diferentes segmentos do mercado financeiro. Esta também foi uma questão de destaque em Davos, já que o Fed (banco central americano), apesar de criticadíssimo por sua atuação ao longo dos acontecimentos recentes, não tem poder total em questões regulatórias nos EUA.

Segundo Knight, a exposição global aos empréstimos de alto risco do mercado hipotecário americano chega a US$ 600 bilhões, o que supera em muito o total revelado pelas instituições financeira. Ele deixou claro que, enquanto o volume total de perdas não ficar claro, o processo de redução de risco dos bancos e de queda do preço dos ativos, deve continuar.

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