Título: Crise dsvaloriza matéria-prima
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2008, Economia, p. B6

Cenário externo já leva a Associação de Comércio Exterior do Brasil a falar em queda das exportações este ano

O temor de que o agravamento da crise nos Estados Unidos atinja em cheio os preços das commodities começa a se confirmar. Se a queda das cotações das matérias-primas agrícolas e industriais comercializadas no mercado internacional se acentuar, o País passa a conviver com o risco de ver suas vendas externas estagnarem ou até caírem em relação aos valores do ano passado, interrompendo um ciclo de oito anos de crescimento consecutivo das exportações.

De acordo com índice elaborado pelo Commodity Research Bureau, dos Estados Unidos, uma das principais empresas de pesquisa e análise de commodities no mundo, as cotações desses produtos perderam sustentação depois que a crise nos EUA se disseminou pelos mercados mundiais. Na quarta-feira, o índice estava 1,1% abaixo do nível de dezembro. Na média de janeiro, no entanto, as cotações ainda exibiam alta de 4,9%.

¿Os preços de algumas commodities exportadas pelo Brasil já dão mostra de enfraquecimento¿, diz Fábio Silveira, sócio diretor da RC Consultores. Segundo ele, o preço da soja, principal commodity agrícola negociada pelo País no mercado global, apresenta alta de 9% na média de janeiro, mas na quarta-feira a cotação do grão já era praticamente igual à do mês passado. Também na ponta, o preço do suco de laranja estava 6% abaixo da cotação de dezembro, enquanto o do petróleo caia 3,3% e o do zinco apresentava desvalorização de 6%.

¿A tendência é de que o enfraquecimento dos preços continue¿, diz Silveira. Para ele, a crise deve começar a afetar o lado real do mercado de commodities, que ainda carrega um ambiente favorável de negócios e apostas financeiras desenhado em 2007, quando foram fechados contratos para entregas neste trimestre. ¿O componente especulativo sai ser removido da equação dos preços¿.

Nesse cenário, a possibilidade de queda nas exportações do País, algo que seria impensável há bem pouco tempo, mesmo com o câmbio em baixa, já começa a ser admitido por entidades como a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

¿Uma reversão do crescimento das exportações já entrou no radar¿, diz José Augusto de Castro, vice-presidente executivo da AEB. Trata-se do primeiro ano de vento externo desfavorável no comércio exterior para o governo Lula. Em 2007, exportações brasileiras tiveram crescimento de 16,1%, no valor de US$ 160,6 bilhões.

Até recentemente, a escalada das commodities e o aumento nos preços em dólar dos produtos industrializados vinham compensando boa parte dos efeitos do câmbio desfavorável à exportação. Em 2007, o preço médio dos produtos vendidos pelo País no exterior teve aumento médio de 10%, enquanto a quantidade de mercadorias cresceu 6%.

¿Os preços não devem dar uma contribuição positiva para as exportações brasileiras este ano¿, estima Fernando Ribeiro, economista-chefe da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). ¿Isso vai fazer uma diferença importante na balança comercial¿.

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