Título: Mais desemprego no mundo
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2008, Notas e Informações, p. A3
O rápido crescimento da economia mundial nos últimos anos gerou milhões de empregos, mas nem assim foi possível evitar o aumento do número de desempregados, porque a quantidade de vagas abertas não foi suficiente para abrigar todos os que chegaram ao mercado de trabalho no período. O que acontecerá ao longo de 2008, quando o desempenho econômico em todo o mundo deve ser pior do que o dos anos anteriores, ainda que não aconteça a recessão nos Estados Unidos? O resultado, de acordo com pesquisa que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) acaba de divulgar, pode ser o acréscimo de 5 milhões de pessoas ao contingente de desempregados em todo o mundo.
O informe anual da OIT Tendências Mundiais do Emprego faz uma avaliação prudente do quadro econômico atual. Mesmo o aumento do número de desempregados que projeta para este ano não chega a ser estatisticamente relevante. No ano passado, cerca de 3 bilhões de pessoas estavam empregadas em todo o mundo. Os desempregados, de acordo com a OIT, representavam 6% da força de trabalho total. Se em 2008 o número de desempregados aumentar em 5 milhões, o índice subirá para 6,1%, variação muito pequena.
Mas a questão não é meramente estatística. O desemprego já atinge quase 200 milhões de pessoas e suas famílias. Além disso, a falta de emprego não é o único problema que afeta os trabalhadores e suas famílias no mundo inteiro. Boa parte dos que integram o grupo dos empregados vive em situação muito difícil.
A OIT calcula que 487 milhões de trabalhadores ganham menos de US$ 1 por dia, quantia mínima para retirá-los da linha de pobreza. A renda de 1,3 bilhão de empregados não chega a US$ 2 por dia. Ou, como resume o informe da OIT, ¿apesar de estarem trabalhando, 4 entre 10 trabalhadores são pobres¿. Além disso, metade dos empregados está em situação considerada vulnerável pela instituição: não está legalmente contratada e por isso não dispõe da proteção do sistema de seguridade social.
Na América Latina, ao contrário do observado em outras regiões, a proporção de empregos vulneráveis está crescendo. Em 1997, segundo a OIT, esses empregos correspondiam a 31,4% do total; no ano passado, a proporção havia subido para 33,2%. Ou seja, um terço dos trabalhadores latino-americanos que estavam empregados tinha empregos de má qualidade. Na região, o setor que mais absorveu trabalhadores nos últimos anos foi o de serviços e, entre as pessoas empregadas nesse setor, o número de mulheres supera o de homens. É possível que boa parte dessas pessoas trabalhe por conta própria, com baixa eficiência, o que reduz a produtividade do trabalho na região, que é menor do que a produtividade média mundial.
Para resolver esses problemas, bem como para conter o desemprego, a OIT recomenda que os governos utilizem melhor as oportunidades que surgem nos períodos de rápido crescimento econômico para estimular a criação de empregos mais produtivos, com melhor remuneração.
O crescimento econômico, por si só, não tem sido suficiente para melhorar as condições no mundo do trabalho, nem mesmo para conter o aumento do número de desempregados (em 2006, o total de desempregados no mundo era de 187 milhões; no ano passado, apesar do crescimento de 5,2% da economia mundial, o total subiu para 189,9 milhões de pessoas). Daí, segundo a OIT, a necessidade de os governos agirem para assegurar que o progresso econômico se transforme num fator de inclusão social e não de aumento das desigualdades, como ocorre em muitos países.
Na avaliação da OIT, a crise atual é diferente das anteriores. Esta surgiu no mundo industrializado e, ao contrário do que aconteceu com as crises da década passada, não afetou de maneira notável os demais países - pelo menos até agora. Não há, porém, nenhuma segurança de que esse quadro se manterá. A questão, diz a OIT, é como o mercado de trabalho em todo o mundo reagirá à redução da atividade econômica. ¿Este será o ano das incertezas¿, resumiu o diretor-geral da OIT, Juan Somavia.
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