Título: Lula conversa, mas não supera impasse entre Dilma e Lobão
Autor: Vera Rosa; Fontes, Cida
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2008, Nacional, p. A5

Ministra resiste a loteamento político e veta indicação do colega de Minas e Energia para comando da Eletrobrás

Nem mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu ontem solucionar o impasse que move a disputa de cargos entre o PMDB e o PT. A crise ocorre agora na composição da Eletrobrás, menina-dos-olhos da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que não aceita a indicação do engenheiro Evandro Coura para o cargo. Gerente do governo, Dilma rejeita o loteamento político e insiste no perfil técnico para a montagem das diretorias de empresas subordinadas ao Ministério de Minas e Energia, que ela já comandou.

Dirigentes do PMDB no Senado espernearam diante da resistência da ministra, mas reapresentarão hoje o nome de Flávio Decat para a presidência da Eletrobrás. Uma ala do partido contrária a Coura, porém, comemorou o veto. ¿O PMDB que se entenda. Não sou eu que vou arbitrar isso¿, afirmou Lula, em reunião com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

Em mais uma tentativa de resolver o imbróglio, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e líderes do partido terão um encontro no fim da tarde de hoje com Lobão e o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, no Planalto.

Lula conversou ontem com Lobão e Múcio e foi informado dos problemas, que passam também pela Petrobrás, pela Eletronorte e até mesmo pela Sudene, fora do setor elétrico. Por causa das inúmeras divergências entre os dois maiores partidos da coalizão governista, é provável que as nomeações sejam feitas somente depois do carnaval.

Para completar a queda-de-braço, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) dedicou os últimos dias a articulações políticas para manter o afilhado Nestor Cerveró na Diretoria Internacional da Petrobrás. O gesto provocou a fúria da bancada do PMDB na Câmara, que tenta emplacar no cargo o engenheiro Jorge Zelada. A confirmação de Zelada na diretoria, porém, não chegou a ser apreciada ontem pelo Conselho de Administração da Petrobrás, dando alento ao PT.

Dilma não esconde a irritação com o apetite do PMDB. A ministra gostaria de preservar Valter Cardeal na presidência da Eletrobrás, mas deu sinais de que aceitará a troca por Decat, ex-presidente da Eletronuclear. A indicação de Coura - assumida pelo presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), depois da bênção do senador José Sarney (PMDB-AP) - começou a perder substância no fim da semana passada. Seus adversários chegaram a dizer que ele não poderia dirigir a estatal por comandar a Associação Brasileira de Concessionárias de Energia Elétrica (ABCE).

Apesar das evidências, Múcio recorreu à diplomacia para negar o cabo-de-guerra entre alas do PMDB, Dilma e o PT. ¿Não há impasse nenhum¿, afirmou. ¿Estamos apenas ouvindo mais para não criar ressentimentos. Queremos diminuir conflitos e homogeneizar os pleitos para não atender a um grupo desatendendo a outro.¿

Delcídio, por sua vez, disse que não desistirá de lutar pela manutenção de Cerveró. ¿Precisamos ter cuidado com o momento que o País está vivendo¿, comentou, numa referência à ameaça de apagão. ¿Nessas horas, é necessário exigir predicados técnicos em vez de apenas políticos.¿ Contrariado com a ação de Delcídio, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), recusou-se a esticar a polêmica. ¿Confiamos na palavra do presidente Lula e considero esse assunto encerrado.¿

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