Título: Golpista do Société Générale é solto depois de assumir operações fictícias
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2008, Economia, p. B5

Kerviel disse à Brigada Financeira que agiu no interesse do banco e negou ter enriquecido com as operações

O jovem de 31 anos suspeito de ser autor de golpes que causaram perdas financeiras de ¿ 4,9 bilhões ao banco francês Société Générale ganhou liberdade provisória ontem. Jérôme Kerviel, operador da instituição, estava detido desde sábado na Brigada Financeira, um braço da polícia da França. Ele prestou depoimentos nos quais reconheceu que tomava posições de risco em nome da empresa.

Kerviel disse que desde 2005 criava operações fictícias para dissimular posições especulativas. A compra de ativos que ele realizou somou, de acordo com o banco, 48 bilhões, que foram renegociados pela instituição entre segunda e quarta-feira passadas em bolsas européias, em especial em Londres e Frankfurt. Segundo Kerviel, a perda de 4,9 bilhões teria sido causada pela ¿precipitação¿ do Société Générale em devolver os títulos ao mercado.

Kerviel negou que tenha enriquecido com as operações e disse agir de acordo com os interesses do banco. Confirmou que tinha ¿relativa liberdade¿ e conhecia os sistemas informatizados de controle por ter trabalhado cinco anos no setor encarregado de monitorar ¿operadores¿.

Elisabeth Meyer, advogada de Kerviel, disse que seu cliente foi indiciado por abuso de confiança, falsificação e uso de documentos falsificados e violação de códigos de sistemas de informática antes de ser posto em liberdade. Ele não deverá ser acusado de corrupção se ficar comprovado que não houve enriquecimento ilícito.

O depoimento de Kerviel confirma em parte os argumentos usados pela direção do Société Générale para explicar o prejuízo. Ontem, em Paris, o presidente do banco no Brasil, François Dossa, definiu Kerviel como ¿um gênio da informática¿ que ¿criou um esquema¿ para compra e venda de ativos sem o efetivo registro pelo sistema de controle do banco. ¿Foi exatamente isso que aconteceu. O sistema não é frágil, mas esses hackers conseguem burlar qualquer sistema¿, disse Dossa ao Estado, após um encontro com o ministro da Defesa, Nelson Jobim. ¿Hoje, todos os bancos estão varrendo seus sistemas para verificar se não há fatos semelhantes¿, argumentou.

Para Dossa, eventuais alegações de Kerviel de que trabalhava em nome dos interesses do banco são um delírio. ¿Para se defender, ele falará qualquer coisa.¿ O presidente da filial brasileira reconhece que a imagem do banco foi arranhada, mas pondera que o fraudador foi o grande responsável. ¿O fato é que não foi uma fraude óbvia.¿

Os ¿ 4,9 bilhões perdidos nas operações de Kerviel equivalem a 80% dos lucros do banco em 2007. ¿Podemos dizer que não houve lucro, ou que lucramos apenas ¿ 800 milhões em 2007. Mas o fato é que nosso capital não mudou¿, disse Dossa.

Para compensar o rombo nas contas, o executivo confirmou que o Société Générale realiza operações de aumento de capital no valor de ¿ 5,5 bilhões, para indicar ao mercado que a crise será superada com excedentes financeiros. Em contrapartida, analistas de mercado ouvidos pelos jornais Le Monde, Le Figaro e Libération indicaram que o aumento de capital fragiliza a posição dos atuais acionistas diante de uma possível oferta de compra do banco.

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