Título: Angra 1 pára e pode atrasar recuperação
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2008, Economia, p. B6

Chuvas da última semana elevaram nível de reservatórios em 2,1 pontos

As chuvas da última semana contribuíram para a melhoria do nível dos reservatórios das Regiões Sudeste e Centro-Oeste, que vinham sofrendo com a estiagem do início do ano. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), as barragens terminaram a semana passada com 48,1% de sua capacidade de armazenamento de energia, volume 2,1 pontos porcentuais acima do observado no dia 1º de janeiro. No entanto, o ritmo de recuperação pode ser reduzido nos próximos dias, por causa de problemas na usina nuclear Angra 1.

A usina foi desligada por volta da 00h30 de ontem, por causa de um superaquecimento no turbogerador. Com potência de cerca de 650 megawatts (MW), Angra 1 tem papel importante no parque térmico brasileiro, uma vez que não enfrenta restrições no fornecimento de combustível. A Eletronuclear informou ontem que técnicos da empresa estão investigando as causas do problema e ainda não há previsão de retorno da usina ao sistema. A empresa informou ainda que não há risco de vazamento de material radioativo.

Mesmo com a recuperação dos últimos dias, o nível dos reservatórios continua 2,7 pontos porcentuais abaixo da Curva de Aversão ao Risco (CAR), instrumento criado após o racionamento de energia de 2001 com o objetivo de aumentar o grau de segurança do sistema elétrico brasileiro. Depois que o nível das barragens bateu na CAR, o governo anunciou medidas para tentar conter o esvaziamento, como o acionamento, com óleo combustível, da térmica de Cuiabá.

As medidas só serão implementadas em fevereiro, mas, segundo o informativo diário da operação do ONS, a usina já operou no último domingo, por causa da disponibilidade de gás natural. Cuiabá foi responsável pela inserção de 141 megawatts (MW) no sistema durante o dia. Já a térmica bicombustível Sepé Tiaraju, no Sul, que vinha operando em ritmo de testes, manteve uma potência de 91 MW anteontem.

Segundo o ONS, o volume de chuvas no Sudeste/Centro-Oeste está em 60% da média histórica este mês, ainda influenciada pelo mau desempenho das primeiras semanas. Na semana passada, porém, as chuvas chegaram a 90% da média histórica nas duas regiões. O ONS aponta uma reversão substancial no quadro de estiagem.

Na bacia do Rio Grande, por exemplo, já chove mais do que a média. O rio é responsável por 27% da capacidade de armazenamento de energia da região. Já no Rio Paranaíba as chuvas vêm se aproximando da média histórica. Na última semana, de acordo com dados do ONS, o volume de chuvas ficou em 96% da média dos 76 anos de estatísticas do setor elétrico.

A maior incidência de chuvas reforça o otimismo do governo com relação ao cenário energético deste ano. Depois de negar a existência de risco de racionamento, a área energética do governo decidiu tomar medidas para evitar o pior. Uma das ações em estudo é o desvio de gás hoje consumido por unidades operacionais da Petrobrás para a geração de energia elétrica.

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