Título: Assassinato de senador agrava conflito no Quênia
Autor: Barba, Mariana Della
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2008, Internacional, p. A15

Céticos, especialistas acreditam que recuo do governo e pressão de empresários ajudariam a resolver a crise

O senador da oposição Mugabe Were foi assassinado na noite de segunda-feira em frente de sua casa em Nairóbi, capital do Quênia. Político moderado e importante mediador entre as etnias rivais, sua morte provocou protestos em diversas cidades do país e acirrou o conflito, que já matou mais de 800 pessoas em um mês.

Testemunhas disseram que dois homens abordaram Were quando ele estacionava seu carro, dispararam duas vezes e fugiram. A notícia se espalhou rapidamente e a oposição qualificou o assassinato como um crime político para intimidá-los.

Partidários do opositor Movimento Democrático Laranja (MDL), do qual Were era membro, saíram então às ruas em Nairóbi, Kisumu e outras cidades para protestar e vingar sua morte. A polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes, que estavam armados com machetes e facões.

No restante do país, ao menos 12 quenianos foram mortos nos conflitos que começaram no dia 29 de dezembro, quando a oposição contestou o resultado da eleição, na qual o presidente Mwai Kibaki foi reeleito.

Em Naivasha, no oeste, helicópteros militares atiraram balas de borracha contra 600 kikuyus (da mesma etnia de Kibaki), que ameaçavam um grupo de 300 refugiados luos (tribo do líder MDL, Raila Odinga). ¿O país está afundando num estado de anarquia¿, disse Odinga.

Diante do caos, o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan fez um apelo para que Kibaki e Odinga façam o possível para restaurar a calma. Após se reunir com os dois líderes rivais, Annan afirmou que ¿os problemas políticos podem ser resolvidos em quatro semanas¿.

No entanto, especialistas acreditam que uma solução para a crise - que começou como um conflito político e se transformou num confronto étnico - deve demorar mais que a estimativa do ex-secretário. ¿Respeitado pelos dois lados, Annan é o melhor mediador que o país pode ter. Mas, suas conquistas tendem a ser limitadas porque a situação é complexa e envolve mudanças profundas na política queniana¿, disse ao Estado, por telefone, Anthony Holmes, especialista em África do Conselho para Relações Internacionais, centro de estudos com sede em Washington, e ex-embaixador dos EUA em vários países do continente. ¿A origem dos conflitos é a eleição, por isso é preciso confrontar esse problema. Se o governo recuar e aceitar fazer uma nova votação haveria um progresso.¿

Para David Throup, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, também nos EUA, o governo jamais aceitará reconhecer que as eleições não foram justas. ¿A situação vai piorar ainda mais antes de começar a melhorar. O governo deve esperar mais uns dois ou três meses antes de tomar uma atitude séria¿, afirmou Throup, que é autor do livro Multi-Party Politics In Kenya (¿Políticas multipartidárias no Quênia¿). ¿A chance agora são os empresários pressionarem o governo porque estão tendo um prejuízo de quase US$ 1 bilhão por semana.¿ COM AP, NYT E REUTERS