Título: França veta venda do Société Générale
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2008, Economia, p. B9
Ações sobem 10% com especulação sobre oferta do BNP
O governo da França vetará qualquer oferta hostil de compra do Société Générale (SocGen), banco envolvido numa fraude que lhe custou a perda de 4,9 bilhões. ¿Como indicou o presidente da República (Nicolas Sarkozy), o governo não permitirá que o Société Générale seja alvo de ataques hostis de outras instituições bancárias¿, afirmou ontem o primeiro-ministro francês, François Fillon.
A declaração é uma resposta às especulações do mercado de que o também francês BNP Paribas poderia fazer uma oferta hostil pelo banco. Por isso, as ações do SocGen subiram 10,4% ontem. O BNP se recusou a fazer comentários.
Para o analista do Banco Credit Suisse, Guillaume Tiberghien, a oferta pode ser conseqüência da crise no banco. ¿Mas nós não arriscaríamos muito neste momento por causa das incertezas em relação ao poder de ganho e ao controle de risco do grupo¿, observou.
Outro analista de Paris disse não acreditar em uma transação no curto prazo. ¿As ações do SocGen vão permanecer voláteis nos próximos dias, especialmente com a emissão que está por vir¿, disse ele.
A queda do valor do SocGen fez crescer as especulações sobre a possibilidade de fusão com o BNP, para impedir que caia nas mãos de um estrangeiro. O Wall Street Journal informou que o BNP está preparando uma oferta e o Financial Times relatou que o SocGen tem uma reunião de conselho programada para hoje.
O BNP Paribas é conhecido pelo oportunismo. Ele agiu rapidamente para comprar o italiano Banca Nazionale del Lavoro, por 9 bilhões, em 2006, apenas 10 dias depois de os planos de fusão do espanhol Banco Bilbao Vizcaya ter encontrado obstáculos regulatórios.
O BNP fez uma oferta hostil pelo Paribas e pelo SocGen em 1999. Na época, apesar de ter ganhado o Paribas, o SocGen escapou.
VISTA GROSSA
Enquanto isso, a autoridade financeira francesa começou a investigar as operações de troca de ações da instituição que teriam causado o prejuízo ao SocGen. O operador de mercados Jérôme Kerviel, acusado pela fraude, lançou suspeitas sobre seus superiores hierárquicos.
Ele afirmou que seus chefes não poderiam ignorar que ele tomava posições acima das autorizadas e fizeram ¿vista grossa¿. ¿Não posso crer que meus superiores não tinham conhecimento. É impossível gerar semelhantes benefícios com pequenas posições¿, declarou Kerviel, segundo o site da internet MediaPart, que publicou ontem boa parte de suas declarações feitas, no fim de semana, à Brigada Financeira.
Kerviel teria dito, ainda, que ¿isso leva a crer que, quando se está positivo, a hierarquia faz vista grossa sobre os valores¿. O operador, de 31 anos, vai responder às acusações de abuso de confiança, falsificação de documentos e invasão do sistema de dados do SocGen. Ele foi posto em liberdade vigiada pela Justiça, mas a Promotoria de Paris vai recorrer para que ele fique na prisão.