Título: Exportador busca alternativas à UE
Autor: Brito, Agnaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/01/2008, Economia, p. B5

Frigoríficos vão investir em unidades no exterior; bloco é responsável por 29,5% da carne fresca vendida pelo País

O Brasil vendeu US$ 1,02 bilhão em carne in natura para a União Européia em 2007. O valor correspondeu a 29,5% de toda a carne fresca vendida pelo País no ano passado e 23,2% do total das exportações do setor. A importância desse mercado fez com que os frigoríficos anunciassem ontem mudanças de estratégias para tentar minimizar as perdas das exportações e os efeitos nos balanços.

O setor acredita que a estratégia de compra de unidades fora do Brasil poderá ser muito útil para manter o abastecimento do mercado da União Européia a partir de outras unidades ao redor do mundo. Com a compra da americana Swift, o Friboi passa a ter unidades nos Estados Unidos e na Austrália. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) o Brasil atende a 5% do mercado europeu de carne in natura, mas é um dos líderes em alguns tipos de corte, como filé mignon, contrafilé e picanha.

O JBS-Friboi, maior frigorífico de abate e processamento de carne bovina do mundo, informou em nota que deve exportar apenas 25% do total vendido para a UE no ano passado. Isso significa que as receitas de exportação de carne in natural para aquele mercado atingirão apenas US$ 72 milhões.

A alternativa do Friboi é direcionar metade da carne que não embarcará mais para a União Européia aos mercados do Oriente Médio, Ásia e América Latina. A outra metade será colocada no mercado interno, o que pode provocar uma queda das margens do setor frigorífico não exportador.

O Marfrig, quarto maior do setor no mundo, anunciou ontem que também tentará encontrar outros mercados para a carne até agora vendida para a União Européia. Como no caso do Friboi, parte da produção do Marfrig deverá ser colocada no mercado interno a partir de fevereiro, quando tem início o embargo.

Mesmo diante dessa redução, o Marfrig diz que não pretende reduzir o ritmo de produção. Como não há restrição para exportação de carne cozida para o mercado europeu, a empresa informou que fará investimentos nas quatro unidades dedicadas ao segmento de produtos industrializados: Pampeano, Louveira, Promissão e Entre Rios.

Segundo o presidente da Abiec, Marcus Vinicius Pratini de Moraes, a venda de carne cozida pode ser uma alternativa, mas os volumes são pequenos. Ele lembrou que o país mais afetado com a medida será a Itália, uma grande importadora de carne in natura do Brasil. ¿Se os escoceses e os irlandeses queriam aumento do preço da carne na Europa, já conseguiram¿, diz Pratini de Moraes.

Especialista em pecuária de corte, o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), Sérgio De Zen, pôde constatar in loco a preocupação da indústria processadora de carne bovina. Em visita à Inalca, recém-adquirida pelo grupo JBS-Friboi, a empresa afirma que não há oferta disponível no mundo para cobrir a participação do Brasil nesse mercado. A conseqüência já foi, diz, a imediata elevação do preço.

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