Título: 'Decisão é radical e sem muito critério'
Autor: Porto, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/01/2008, Economia, p. B6

Ministro critica excesso de exigências da UE e diz que não vai aceitar o limite de 300 fazendas autorizadas a exportar

O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, considerou ¿relativamente radical e sem muito critério¿ a decisão anunciada ontem pela União Européia (UE) de suspender as importações de carne brasileira. Em entrevista exclusiva ao Estado, o ministro afirmou que o Brasil não vai aceitar o limite imposto pela UE, de que somente 300 fazendas poderão exportar carne para o bloco econômico. Segundo ele, dentro do critério exigido há até 3 mil propriedades.

Stephanes criticou o excesso de exigências da UE para as exportações bovinas, disse que a pressão do mercado interno do bloco é forte, mas lembrou que o Brasil aceitou as regras de rastreabilidade bovina impostas pelos europeus.

Qual o opinião do governo sobre a questão desse novo embargo da União Européia à carne brasileira? É uma questão política ou técnica?

Há uma unanimidade de pensamento em relação a isso. Não só o Ministério da Agricultura, mas produtores, exportadores e outros setores concordam que há excesso de exigências da União Européia. Há uma pressão interna muito forte lá contra a carne brasileira, já que o mercado comum europeu produz quase 90% da carne consumida lá e os países exportam e importam entre si. A carne produzida na União Européia tem custo duas a três vezes maior que o da carne brasileira. E a carne brasileira corresponde a 5% do mercado europeu, mas sinalizava um aumento maior na participação, tanto pela qualidade como pela competitividade. Os produtores europeus, principalmente os irlandeses, passaram a exigir que se aplicassem à carne brasileira as regras de controle que se aplicavam às européias, adotadas em função da doença da vaca louca, doença que o Brasil não tem. O interessante é que o Brasil aceitou a regra e teve dificuldade de implantá-la. O rigor da análise européia é muito pesado, inclusive com as mudanças de exigências de quando em quando.

Não há problema sanitário com a carne brasileira?

É interessante observar ainda que a última missão que veio aqui não teve nenhum problema sanitário com o gado brasileiro, apenas uma questão burocrática, que seria a rastreabilidade. E adotaram agora uma medida relativamente radical e sem muito critério. Embora nós tenhamos, dentro dos critérios da União Européia, quase 3 mil fazendas, eles aceitam apenas 300 fazendas, o que é muito difícil de entender.

Não foi apresentado nenhum argumento sanitário ou técnico?

Não. Absolutamente nenhum argumento sanitário ou técnico. Os argumentos são a forma burocrática de se rastrear o gado, o que é uma necessidade quando se têm doenças, como é o caso da vaca louca. De qualquer forma, a decisão geral é não fechar as janelas que existem e, por enquanto, aceitar as condições impostas pelo mercado europeu, mas já mostrar a clara discordância e exigir melhores definições para o futuro da União Européia, tanto pelo ministério como via Itamaraty. O calendário é até o dia 15 de fevereiro mandar as informações básicas utilizadas nas auditorias das propriedades boas. No dia 25 de fevereiro virá uma missão européia conferir. Mas nós queremos saber quais são as regras daí para frente. O Brasil não pode aceitar a manutenção de 300 propriedades, se dentro do critério nós temos até 3 mil propriedades.

Como o senhor avalia a comemoração dos produtores irlandeses sobre a decisão?

Está claro que não é questão sanitária. É simples, de rastreabilidade, burocrática. E a União Européia deixou isso muito claro.

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