Título: Funcionários do Planalto gastaram R$ 205 mil
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2008, Nacional, p. A6

Governo vai abrir investigação sobre divulgação das despesas de Lula

Os cartões corporativos da Presidência também são usados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para pagar contas de sua casa. Reportagem da revista Veja mostra que três funcionários do Planalto fazem compras com cartões. Juntos, gastaram R$ 205 mil em 2007, revela a reportagem, que se baseou em dados publicados no Portal da Transparência, da Controladoria-Geral da União (CGU).

O maior volume de gasto foi do cartão de José Henrique de Souza - sozinho, desembolsou R$ 115 mil durante o ano. Gastou em supermercados, açougues, lojas de bebidas e outros. Os outros dois servidores não tiveram os nomes divulgados.

Souza aparece no organograma do governo como assessor especial de atendimento ao gabinete pessoal do presidente. Ele é responsável pelo abastecimento das cozinhas e adegas das residências oficiais - o Palácio da Alvorada e a Granja do Torto. O maior volume de gastos de Souza em 2007 foi com o Pão de Açúcar, R$ 55.400. O segundo, com a refinada casa de carnes Reisman.

Segundo assessores do palácio, as compras foram feitas para atender a recepções e eventos no Alvorada e no Torto. Eles explicam que os itens comprados não podem ser estocados.

O governo decidiu abrir investigação para descobrir como e por que as despesas da família de Lula foram parar no Portal da Transparência, que pode ser consultado por qualquer pessoa. O Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável pela segurança do presidente, argumenta que esses dados não podem ser de domínio público, pois é possível usá-los contra a integridade da vida do chefe de governo.

¿Acontecer isso é um caso único. Em todo o mundo se preserva segurança e a intimidade do seu chefe de Estado. Isso não pode ser divulgado¿, declarou o ministro-chefe do GSI, general Jorge Armando Félix. ¿Todos fomos surpreendidos. Tomamos cuidado com lixo, destruição de papéis, porque, às vezes, juntando um dado aqui, outro ali, se consegue informações preciosas de como funciona um palácio presidencial. Temos de preservar a intimidade e a segurança do presidente. Mas, aconteceu, aconteceu. Agora é evitar que aconteça de novo.¿

Ele ressalvou que não é caso de investigação pela Agência Brasileira de Inteligência e sim pela Secretaria de Administração da Presidência. ¿É um problema administrativo.¿ Assessores do presidente relataram, por exemplo, que a divulgação do nome de José Henrique de Souza impede que ele continue a desempenhar sua função.

A CGU argumentou que só divulgou as informações sobre Lula porque estavam liberadas. Explicou que só bloqueia dados que são solicitados e, neste caso, não houve solicitação. ¿Quem faz classificação destes dados, do que é ou não sigiloso, são os órgãos que nos enviam estas informações¿, insistiu.