Título: Rivais chegam a acordo no Quênia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2008, Internacional, p. A16
Governo e oposição comprometem-se a trabalhar em conjunto para colocar fim à onda de violência no país
O governo e a oposição do Quênia acertaram ontem uma série de acordos com o objetivo de colocar um fim à onda de violência que toma conta do país desde o mês passado. Os dois lados assinaram um documento de quatro pontos comprometendo-se a completar as negociações para resolver a crise política em até 15 dias. ¿Nós concordamos em um programa de trabalho que cobre questões a curto e longo prazos¿, afirmou o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, que vem trabalhando como mediador das negociações entre representantes do presidente Mwai Kibaki e do líder opositor, Raila Odinga.
Os pontos que o governo e a oposição têm de entrar em acordo são: como acabar com a onda de violência; resolver a crise humanitária causada pelos protestos políticos e conflitos étnicos; resolver imediatamente a crise política; e promover a reconciliação em uma solução a longo prazo. Não foi divulgado como esses pontos serão tratados, já que Odinga exige novas eleições e Kibaki é contra colocar sua posição como presidente em negociação. ¿Acreditamos que entre 7 e 15 dias conseguiremos resolver pelo menos três pontos da agenda¿, afirmou Annan. ¿O primeiro que será resolvido é agir imediatamente para acabar com a violência.¿
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chegou ontem a Nairóbi para ajudar Annan na mediação e disse que a responsabilidade de resolver a crise está nas mãos dos líderes políticos do país. Os conflitos começaram em 29 de dezembro, quando a oposição contestou o resultado da eleição, na qual Kibaki - no poder desde 2002 - foi reeleito. Desde então, mais de 800 pessoas foram mortas e cerca de 300 mil quenianos tiveram de deixar suas casas.
CRIMES
Os confrontos étnicos foram intensificados essa semana após o assassinato de dois integrantes da oposição. Na quinta-feira, o deputado do Movimento Democrático Laranja (MDL) David Kimutai Too foi morto pela polícia na cidade de Eldoret, oeste do país. Na segunda-feira, o senador da oposição Mugabe Were foi assassinado na frente de sua casa na capital, Nairóbi.
Odinga afirmou ontem que o governo dos Estados Unidos ofereceu mandar ao Quênia agentes do FBI para investigar a morte de Were e instou o governo a aceitar a ajuda. A Embaixada dos EUA no país confirmou que a oferta foi feita, mas o porta-voz do governo, Alfred Mutua, disse que a proposta não foi recebida e afirmou que o país não precisa de ajuda de fora para concluir a investigação. Ontem, Kibaki responsabilizou a oposição pela onda de violência no país e voltou a afirmar que sua eleição foi legítima.
¿Embora o resultado das eleições tenha refletido o desejo da maioria dos quenianos, os líderes da oposição instigaram uma campanha de insatisfação civil que causou mais de 800 mortos¿, afirmou o presidente, que garantiu que a segurança no país está ¿sob controle¿.AP, EFE E REUTERS