Título: Após confirmar morte de macacos, SP faz vacinação em área rural
Autor: Siqueira, Chico; Leite, Fabiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2008, Vida &, p. A17

Animais são hospedeiros do vírus do tipo silvestre da doença, colocando em risco humanos não imunizados

Pela primeira vez neste ano foi comprovada a circulação do vírus da febre amarela em área de mata do Estado de São Paulo, o que levou o governo estadual a iniciar hoje a vacinação contra a doença da população rural de 13 municípios do noroeste paulista. Exames feitos pelo Instituto Adolfo Lutz confirmaram que dois macacos morreram em decorrência da doença nas cidades de Nova Aliança e Mendonça, a 464 quilômetros e a 485 km da capital, respectivamente.

A morte dos animais é o primeiro sinal de alerta sobre o risco de contaminação de humanos pelo vírus da febre amarela, e, segundo as recomendações do Ministério da Saúde, após a confirmação laboratorial de que a causa foi a doença, deve ser iniciada a vacinação.

O governo federal, no entanto, em suas recomendações para viajantes (ver mapa) já indicava a vacinação para todo o noroeste paulista, incluindo áreas urbanas e de mata, informação que não era referendada pelo Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado em seus informes técnicos na internet.

A coordenadora municipal de Saúde de Mendonça, Graziela Lucia Dias, afirmou que na região não há, por enquanto, nenhum caso suspeito de febre amarela silvestre em humanos, assim como no restante do Estado. Até ontem o ministério confirmava 23 casos de febre amarela no País, com 13 mortes - foi confirmado o primeiro óbito fora de Goiás, no Distrito Federal.

Nos últimos dez dias, o serviço de vigilância sanitária de Mendonça encontrou restos de 15 macacos, das espécies prego e bugio, mortos nas matas ciliares do Córrego da Paciência, afluente do Rio Tietê, em Mendonça e Nova Aliança. Como os animais não apresentavam ferimentos nem marcas de afogamento, os técnicos suspeitaram da febre amarela silvestre. A suspeita já tinha levado os dois municípios a iniciar no dia 25 de janeiro uma campanha de vacinação dos moradores da zona rural, mas uma ordem do Ministério da Saúde determinou a paralisação da campanha, que agora recomeça hoje.

De acordo com a assessoria da Secretaria de Estado da Saúde, 50 mil doses da vacina foram reservadas para imunização dos moradores ribeirinhos de 13 municípios: Sales, José Bonifácio, Ubarana, Adolfo, Irapuã, Bady Bassit, Potirendaba, Jaci, Mendonça, Nova Aliança, Urupês, Cedral e Ibirá. A partir das 7 horas de hoje começa o mutirão nesses municípios. A previsão da secretaria é de que todos estejam imunizados até terça-feira.

Todos os 13 municípios estão localizados em áreas de transição da febre amarela, próximos da divisa de São Paulo com áreas endêmicas de Mato Grosso do Sul e Goiás. Outros dois animais foram encontrados mortos na região, em matas de Nova Granada e Riolândia, mas somente os restos do animal localizado em Riolândia puderam ser examinados - os resultados ainda não saíram.

REAÇÕES ADVERSAS

O Ministério da Saúde confirmou ontem que já são 47 os casos de suspeita de reação adversa à vacina registrados no País, a maioria casos leves.

A vacina só deve ser tomada por pessoas que vão para áreas de risco de febre amarela e que tenham se imunizado há mais de dez anos. Ela provoca contra-indicações para quem tem problemas no sistema imunológico, para grávidas e alérgicos a ovos.

Também idosos devem tomar cuidado, informou ontem o Ministério da Saúde (leia texto ao lado). As contra-indicações podem ser verificadas na página do ministério na Internet: www.saude.gov.br.

Pelo menos cinco casos de suspeita de reações graves à vacina são investigados no País, dois em São Paulo, um em Goiás e um em Mato Grosso do Sul - todos os pacientes morreram. Além disso, uma mulher segue internada em coma em Brasília

AMAZONAS

Ontem, a Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas informou que duas crianças, de 4 e 6 anos, estão internadas em Manaus há 15 dias com suspeita de reação à vacina. Elas foram vacinadas no início de janeiro. De acordo com a secretaria, ambas não apresentam risco de morte.

O material biológico das duas crianças foi enviado ontem para o Instituto Evandro Chagas, em Belém (PA), para ser analisado. O resultado dos exames deverá ser divulgado em até dez dias.