Título: Argentina reclama de taxa zero para trigo
Autor: Vialli, Andrea ; Conceição, Ana
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/02/2008, Economia, p. B3

Para produtores, medida é manobra do Brasil para tentar baixar preços

Ariel Palacios e Marina Guimarães

Os argentinos consideraram uma manobra política a decisão do Brasil de zerar a Tarifa Externa Comum (TEC) de 10% para a importação de 1 milhão de toneladas de trigo de países fora do Mercosul. ¿É uma medida política para derrubar nossos preços, mas o trigo argentino já é o mais barato do mundo, e eu quero ver o Brasil conseguir outro tão acessível¿, disse o tesoureiro da Associação Argentina Pró-Trigo, Raúl Maestre.

Segundo ele, ontem, a cotação do trigo argentino era de US$ 370 a tonelada FOB, enquanto o americano estava em US$ 420 a tonelada. ¿Não há trigo agora para o Brasil em outro lado porque os Estados Unidos só vão fazer o grosso da colheita em junho.¿ Ainda de acordo com Maestre, o único trigo mais barato que o argentino é o soft americano. ¿De qualidade inferior, que custa US$ 370, mas a esse valor é preciso agregar o frete dos EUA até aqui.¿

Para ele, o Brasil deveria ter comprado trigo argentino ¿quando teve oportunidade, durante a reabertura dos registros¿, em novembro do ano passado. Naquele mês, em apenas três semanas os exportadores venderam 7 milhões de toneladas de trigo. Do total, o Brasil assegurou 3 milhões. As 4 milhões de toneladas restantes serão enviadas a países como Índia, Egito e Paquistão. ¿A tartaruga escapou das mãos do Brasil¿, disse Maestre, em tom irônico. Para o tesoureiro da Associação Argentina Pró-Trigo, essa ¿lerdeza¿ teve o claro objetivo dos brasileiros de não convalidar o preço do trigo argentino. ¿É um sinal político de que há pessoas no Brasil que não se interessam pelo Mercosul.¿

NEGOCIAÇÃO

Ontem o governo argentino garantiu ao Brasil que poderá fornecer 3 milhões de toneladas de trigo para o primeiro semestre deste ano. O anúncio foi feito em Buenos Aires pelo secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, que se reuniu com representantes do governo argentino durante encontro da Comissão de Monitoramento do Comércio Bilateral, que também discutiu o regime automotivo. Em março, uma reunião no Brasil vai analisar o assunto.

Ramalho disse que o governo brasileiro pediu à Argentina regularidade no envio do trigo. Segundo ele, no ano passado ocorreram interrupções nas exportações, o que ¿provocou instabilidades¿, especialmente nos preços no Brasil.

Além das 3 milhões de toneladas prometidas para o primeiro semestre, Ramalho disse que ¿existe a possibilidade¿ de que a Argentina possa atender às expectativas brasileiras no resto do ano. Só em janeiro já entraram 800 mil toneladas de trigo argentino no País.

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