Título: Governo está se curvando ao embargo europeu
Autor: Vialli, Andrea ; Conceição, Ana
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/02/2008, Economia, p. B3

Para Pratini de Moraes, que representa os exportadores de carne, declaração de Stephanes foi 'tiro no pé'

Andrea Vialli e Ana Conceição

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Marcus Vinicius Pratini de Moraes, reagiu duramente à declaração do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, de que os frigoríficos brasileiros exportaram carne não rastreada para a União Européia (UE).

¿O governo deu um tiro no pé ao dar uma declaração como essa. O próprio Ministério da Agricultura está se dobrando ao embargo europeu¿, disse ontem à tarde ao Estado, por telefone. ¿Eu só posso aplaudir a iniciativa do ministro de dar essa declaração¿, ironizou. ¿Mas convém chamar o governo aos seus próprios serviços. Acho bom que o ministro reconheça as deficiências do processo de rastreabilidade, mas cabe ao governo também cuidar das questões diplomáticas.¿

Segundo Pratini de Moraes, é provável que carne não rastreada tenha embarcado para o continente europeu, uma vez que há pequenos produtores que exportam carne apenas eventualmente e não fazem o rastreamento. ¿Há pecuaristas que não exportam com freqüência e por isso não rastreiam seus rebanhos. Mas posso garantir que os frigoríficos associados à Abiec não exportaram carne não rastreada à União Européia¿, enfatizou. A entidade reúne em torno de 20 grandes frigoríficos brasileiros.

Pratini de Moraes, que ocupou a pasta da Agricultura durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, também rebateu a declaração de Stephanes de que cabe aos frigoríficos liderarem o processo de rastreamento dos rebanhos.¿As exigências só tendem a aumentar e os produtores devem estar atentos a essa questão¿, disse. ¿Mas cabe ao governo criar condições para que isso ocorra.¿

Ele diz que é aconselhável que os frigoríficos brasileiros se preparem para normas mais rígidas em relação a questões sanitárias e de rastreabilidade da carne. Segundo Pratini de Moraes, muitos pecuaristas ainda não estão preparados para essas novas demandas. ¿O grande problema é que só exportamos 20% da carne, o restante fica no mercado interno, que não possui essas exigências.¿

O Brasil exportou em janeiro US$ 146 milhões em carnes para os países da União Européia. Em 2007, as exportações de carne brasileira para o bloco totalizaram US$ 1,1 bilhão, de acordo com números do governo federal. As perdas com o embargo europeu à carne brasileira, decretado pela UE no fim do mês passado, chegam a US$ 5 milhões por dia, segundo o ministro Reinhold Stephanes.

Procurados pela reportagem do Estado, os frigoríficos JBS Friboi, Marfrig, Minerva e Independência, grandes exportadores de carne fresca, preferiram não se manifestar individualmente a respeito das declarações do ministro.

ARROGÂNCIA

Ao participar do Showtec, evento sobre tecnologia agrícola em Maracaju, Mato Grosso do Sul, ontem de manhã, o presidente da Abiec reiterou que o governo precisa ter uma posição mais agressiva em relação ao embargo da UE à carne nacional. ¿É preciso dar o troco à Europa, que tem sido arrogante e tenta desqualificar a carne brasileira¿, afirmou.

Segundo Pratini de Moraes, a lista com apenas 300 propriedades exigida pela União Européia é inaceitável, pois seriam necessárias entre 10 mil e 15 mil propriedades cadastradas - levando em conta uma programação anual de abate de 11 milhões de cabeças - para atender ao mercado europeu.

Ele acredita que em pouco tempo haverá pressão tanto dos importadores quanto dos consumidores europeus pelo retorno da carne brasileira, por causa do aumento dos preços.

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