Título: Saldo da balança é o menor desde junho de 2002
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2008, Economia, p. B6
Superávit em janeiro foi de US$ 944 milhões, mas volume de comércio, de US$ 25,6 bi, bateu recorde
A balança comercial apresentou em janeiro superávit de US$ 944 milhões - o menor desde junho de 2002, quando alcançou US$ 680 milhões. Ao divulgar os dados, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) festejou o recorde para meses de janeiro da corrente de comércio, de US$ 25,610 bilhões - US$ 12,333 bilhões de importações mais os US$ 13,277 bilhões de exportações. Ressaltou ainda que o saldo pequeno de janeiro não indica vulnerabilidade nas contas externas brasileiras.
¿O saldo é compatível com o cenário de estabilidade econômica. Há perspectiva de grande conforto¿, disse o secretário interino da Secex, Fábio Faria. O resultado de janeiro foi determinado pelo crescimento de 45,6% nas importações, em comparação com igual mês de 2007. Esse aumento ficou bem acima da expansão também robusta das exportações, de 20,9% no mesmo período. As compras do exterior não foram mais volumosas porque as importações da categoria dos combustíveis e lubrificantes - tradicionalmente, a principal da pauta de importação - aumentaram apenas 8,7%.
Faria disse que a ¿forte expansão¿ das importações de janeiro se deveu aos crescimentos de 56,9% nas compras de bens de capital e de 52,7%, nas de matérias-primas e insumos. Na avaliação de Faria, esses movimentos respondem ao aumento da produção industrial e à necessidade de repor estoques.
Entretanto, o secretário reconheceu que a alta das importações foi motivada, em especial, pelo aumento de 92,4% nas compras de bens de consumo duráveis. Essa categoria respondeu por 7,1% do total importado pelo País em janeiro e foi inflada principalmente pelas ¿atípicas¿ aquisições de US$ 325,1 milhões em automóveis estrangeiros, com expansão de 271,7%. Para Faria, o resultado de US$ 13,277 bilhões de exportações trouxe a perspectiva de ¿retomada¿. Ele observou que o aumento de 20,9% em relação a janeiro de 2007 foi mais robusto do que os 16,1% de todo o ano passado. De fato, houve aumentos nas três categorias: os básicos, com 25,0%; os semimanufaturados, com 15,9%; e as manufaturas, com 18,3%.
Mas, no mês, os líderes em vendas foram duas commodities: o minério de ferro, com US$ 962 milhões, e o petróleo em bruto, com US$ 616 milhões. Campeões do passado tiveram desempenhos menos expressivos. Os aviões, com US$ 231 milhões, tiveram crescimento de apenas 4,5%, em relação a janeiro de 2007. Os celulares, com US$ 143 milhões, queda de 28,1%.
Para o economista Roberto Iglesias, do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes), o resultado de janeiro confirma que o Brasil terá de se acostumar com saldos menores na balança comercial e, mais cedo que o esperado, verá déficits nas contas externas.
O Banco Central já previu para este ano um saldo negativo de US$ 3,5 milhões nas transações correntes. Além da balança comercial, a conta inclui a movimentação de serviços e rendas com o exterior. O BC estima que a balança comercial terá saldo de US$ 30 bilhões em 2008. Para que a previsão se confirme, a balança deverá ter superávit médio de US$ 2,5 milhões por mês, bem acima do resultado de janeiro.
¿Em países em desenvolvimento, déficit em conta corrente gera sempre desconfiança dos mercados¿, advertiu Iglesias. ¿A alternativa para preservar saldos positivos seria um crescimento econômico menor. Não se pode pisar no acelerador.¿