Título: A segunda usina do Madeira
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2008, Notas e Informações, p. A3
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) marcou para 9 de maio o leilão de concessão da Usina Hidrelétrica de Jirau, com 3,35 mil MW de potência. Trata-se do segundo aproveitamento do Rio Madeira, em Rondônia. A Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, com capacidade de 3,15 mil MW, foi leiloada em 10 de dezembro.
A licitação de Jirau, aberta pela Portaria 28 do Ministério de Minas e Energia (MME), de 24 de janeiro, ocorrerá cinco meses depois da licitação de Santo Antônio. Mas a energia de Jirau só começará a ser gerada a partir de 2012, um ano depois de Santo Antônio entrar em operação. Os custos de construção deverão ser os mesmos para as duas usinas - em torno de R$ 12,5 bilhões cada uma.
Na Região Amazônica está o maior potencial de desenvolvimento de projetos hidrelétricos de grande porte, estimando-se a possibilidade de ampliar em até 90 mil MW a capacidade instalada de geração do País, o que equivaleria a quase dobrar a capacidade atual. Somadas, as Usinas de Jirau e Santo Antônio gerarão 6,5 mil MW de energia nova no Rio Madeira, uma ampliação de cerca de 7% da capacidade hoje instalada no País. Será uma substancial contribuição para o atendimento das necessidades de energia elétrica do País. Estima-se que, anualmente, 5 mil MW precisam entrar no mercado, para atender ao acréscimo de demanda numa fase de crescimento econômico acelerado, na faixa dos 5% no ano passado.
Até agora, Santo Antônio teve apenas uma licença ambiental prévia. A licença ambiental definitiva da usina deverá ser fornecida em setembro. Só no final deste ano, portanto, a construção poderá ser iniciada. Se o cronograma dos vencedores do leilão não atrasar, Santo Antônio começará a produzir eletricidade em maio de 2011, oito meses antes do previsto no leilão. A energia gerada nesses oito meses será ofertada no mercado livre, onde se obtém melhor remuneração. Foi esse cálculo que permitiu ao grupo vencedor do leilão fazer o lance de R$ 78,87 o MWh, contra o máximo de R$ 122,00 o MWh mencionado no edital da Aneel. Dificilmente essas condições se repetirão no leilão da Usina de Jirau, que, segundo as previsões, deverá produzir energia a um preço mais próximo do fixado pelo edital.
A concessão da Usina de Santo Antônio teve que vencer a resistência dos ambientalistas. Isto acontecerá também com a Usina de Jirau e com as linhas de transmissão, que ligarão as usinas do Madeira ao Sistema Interligado Nacional, para que a energia possa chegar às áreas industrializadas, onde o consumo é crescente.
A linha de transmissão das usinas do Madeira, com cerca de 2,5 mil km de extensão, será uma das maiores do mundo e a maior do Brasil, superando a de Itaipu, que tem cerca de 1,6 mil km. A construção da linha de transmissão do Madeira envolverá recursos estimados por especialistas em mais de R$ 7 bilhões. A elaboração do projeto ainda depende de algumas definições cruciais, como o seu traçado (Porto Velho a Araraquara ou Porto Velho a Minas Gerais) e sobre a corrente, que poderá ser contínua ou alternada. Os técnicos geralmente recomendam a opção por linhas de corrente contínua sempre que a extensão supera 1,5 mil km, para reduzir a perda de eletricidade.
Além disso, a linha terá de margear as rodovias do Norte e Centro-Oeste, até chegar ao Sudeste, passando por áreas agricultáveis, havendo muitos problemas técnicos e ambientais complexos a serem resolvidos. Lembre-se que uma das principais causas do atraso da operação da Usina de Samuel, também na Região Norte, é a dificuldade encontrada para a construção da linha de transmissão.
Cabe ao MME e à Aneel definirem, com rapidez, o projeto básico e o edital da linha de transmissão, que demorará de três a quatro anos para ser construída e que poderá ser um dos obstáculos capazes de retardar a entrada em funcionamento das usinas do Madeira.