Título: EUA consomem e adiam recessão
Autor: Tamer, Alberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/02/2008, Economia, p. B12
Os ânimos vão se acalmando aos poucos no cenário financeiro internacional, agitado desde agosto pelos desdobramentos da crise imobiliária nos Estados Unidos, que chocou mais porque ninguém - nem os bancos centrais - acreditou nela.
E todo mundo se alvoroçou quando as perdas passaram a apontar para US$ 150 bilhões, ou mais, e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial encolheu. Como a economia americana, que já vinha em retrocesso, recuou ainda mais, quase todos passaram a falar em ¿recessão¿, projetando cenários desastrosos que se assemelhavam a catástrofes de longo prazo. Era o caminho do caos...
Esta coluna sempre refletiu o pensamento dos economistas mais equilibrados que levavam em consideração vários cenários, mais a reação do investidor e do consumidor, para concluir que é cedo demais para prever recessões persistentes.
Segundo eles, estávamos diante de um retração gradual do crescimento econômico, mas não uma recessão, com todo o séquito sinistro de crises superpostas que levariam à quebra de empresas, ao desemprego, à insolvência generalizada.
FMI E G-7 SEM RECESSÃO
O Fundo Monetário Internacional (FMI) foi o primeiro a mostrar realismo. A economia americana está se retraindo, mas vai escapar da recessão, afirmaram seus economistas, há algumas semanas. Agora, os ministros das Finanças do G-7, os países mais desenvolvidos do mundo, chegaram à mesma conclusão, em reunião realizada na semana passada, em Tóquio. Vai haver crescimento menor, mas não recessão. No fundo, eles estão preocupados, como esta coluna tem registrado, não com recessão, mas com um a desaceleração mais forte do ritmo de crescimento econômico nos Estados Unidos e no mundo.
Na verdade, o que preocupa é que, com recessão (uma definição vaga, quase acadêmica) ou não, a economia mundial está crescendo menos. É esse o desafio que temos de enfrentar, afirmam eles.
CONSUMO SURPREENDE
Após semanas de desânimo, ontem a economia americana voltou a surpreender na sua resistência à crise financeira. O mercado previa, em janeiro, uma queda de 0,4% nas vendas ao varejo, mas elas aumentaram 0,3%. É um dado importante porque o consumo interno representa 70% do PIB americano, de US$ 14 trilhões. A maior demanda foi por carros e partes, aumentou 0,6% em franco contraste com uma queda de 1,1% em dezembro - e isso apesar dos descontos, juro menor e prazo alongado. Também em janeiro, o consumo de gasolina aumentou 2%. Outros aumentos nas vendas foram de roupas (1,4%), produtos de saúde e higiene (0,8%), comida e bebida (0,6%). Ou seja, eles voltaram a comprar de tudo.
EMPREGO FIRME TAMBÉM
No mesmo dia, o Departamento do Trabalho informou que, apesar da turbulência crescente, em dezembro foram 1,8 milhão de demissões, número igual ao de dezembro de 2006, mostrando que o mercado de trabalho não se deteriorou com a crise.
Andrew Tilton, economista sênior do Goldman Sachs, lembrou que ¿muitos setores, além do financeiro e imobiliário, ainda não estão sentindo pressão para demitir, pois precisarão dos funcionários logo mais, quando a economia retomar¿. Em janeiro, foram cortados só 18 mil empregos, a primeira queda em quatro anos e meio. Nas recessões anteriores, foram entre 100 mil a 200 mil.
Mesmo assim, acrescenta o Departamento do Trabalho, em dezembro, fora o setor agrícola, houve 4,6 milhões de novas contratações. Não é relativamente muito, mas sem dúvida um bom resultado comparado com o recente pico de 5,1 milhões, em julho do ano passado.
RECESSÃO SEM DESEMPREGO?
Esses números, que mostram a vitalidade do mercado de trabalho, apesar de algum retrocesso, levaram o economista do JP Morgan Chase, Michael Feroli, a afirmar: ¿É estranho ter recessão num ambiente onde não há muitas demissões. Nós estamos na terra sem dono entre recessão e crescimento¿.
ENERGIA AINDA É RISCO, SIM
No Brasil, vamos passando a presente crise sem nos preocuparmos muito com o futuro, não um futuro distante, mas esse que estará aí, em alguns meses. Um caso típico é a energia. Choveu nas represas, e todo mundo em Brasília saiu apregoando, ¿viu como nós estávamos certos? Está tudo sob controle... dos céus...
Todas as obras de hidrelétricas estão superatrasadas, as usinas do Rio Madeira só começarão a produzir a partir de 2013 ou 2014 e a energia virá a conta-gotas, apenas uma turbina por mês. Levará bem mais de um ano para que os 6,4 milhões de megawatts estejam gerando energia. E precisamos de 5 mil megawatts por ano para crescer a 5%!
Choveu agora, mas e se não chover tanto em 2009, 2014 ou 2005?! Toca energia térmica sem gás e mais cara?
ANUÁRIO FUNDAMENTAL
Para quem quiser conhecer a fundo o sistema energético brasileiro, do petróleo à hidreletricidade, é fundamental ir à nova edição do anuário Análise Energia (www.analise.com). É uma edição bilingüe, com 330 páginas. Ali está uma descrição completa de cada setor, as 2000 empresas que operam nele e um perfil minucioso dos 90 grupos empresariais responsáveis por quase 90% da energia no Brasil.
Uma das principais matérias do anuário contém gráficos com os 77 cenários hipotéticos, avaliando se vai faltar ou sobrar energia nos próximos 5 anos. Avalia-se, em várias hipóteses, a quantidade de energia necessária a ser injetada de acordo com as projeções da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A edição tem distribuição dirigida de 30 mil exemplares, dos quais 7 mil serão distribuídos em mais de 40 países.
Está tudo lá. Um estudo indispensável para os economistas do setor. A Análise Editorial, criada por um grupo de jornalisas, especializou-se em anuário e já publicou análises sobre comércio exterior, companhias abertas, gestão ambiental, adovacia e saúde.
Os de energia e comércio exterior deveriam estar não só nas mesas dos empresários, mas também dos nossos ministros em Brasília.
*E-mail: at@attglobal.net
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