Título: Oficial marcado para morrer tentou afastar 56 PMs acusados de crimes
Autor: Godoy, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/02/2008, Metrópole, p. C1
Ele e coronel executado em janeiro alertaram comando, corregedoria e DHPP sobre ameaças, mas ninguém foi afastado
Marcelo Godoy
A abertura de 56 processos de demissão de policiais do 18º Batalhão da Polícia Militar foi o estopim que desencadeou as ameaças a oficiais na zona norte de São Paulo. O comando da PM sabia das ameaças, mas só resolveu afastar das unidades policiais suspeitos de envolvimento com chacinas e achaques a traficantes na região depois do assassinato do coronel José Hermínio Rodrigues.
Chefe do policiamento na zona norte, Hermínio foi assassinado em 16 de janeiro. Três PMs do 18º Batalhão foram presos após o crime e o comando mandou afastar outros 20 policiais de quatro batalhões.
A decisão de ¿pôr ordem¿ no 18º Batalhão, apontado como foco de um grupo de extermínio, foi tomada pelo tenente-coronel João Osório Gimenez Germano, então comandante da unidade, no primeiro semestre de 2007. Gimenez contou aos colegas que havia ¿muito `polícia¿ bandido¿ no batalhão.
Foi após a abertura dos processos de demissão que começaram as ameaças por telefone ao oficial. Indignado, Gimenez recorreu ao coronel Hermínio, seu superior, que considerou o caso ¿grave¿. Ele levou Gimenez ao chefe da Corregedoria da PM, coronel José Paulo Menegucci. ¿A corregedoria não adiantou muita coisa, tanto que o Hermínio e o Gimenez foram pedir ajuda ao DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa)¿, disse um oficial, colega de turma de Hermínio.
Dois delegados confirmaram que os coronéis procuraram a Polícia Civil e foram recebidos pela direção da Divisão de Homicídios. ¿A reunião ocorreu em nível da divisão. Não houve participação do diretor do departamento¿, disse um delegado que trabalhava em 2007 no DHPP. No encontro, Gimenez relatou seus problemas e as ameaças. ¿Providências foram tomadas. Fizemos o que pôde ser feito, mas as coisas não dependiam só da gente¿, disse o delegado.
O resultado é que, em junho, o tenente-coronel jogou a toalha. Acuado pelos Matadores do 18, Gimenez deixou o 18º Batalhão e foi assumir o comando do 49º Batalhão, em Jundiaí.
Em janeiro, foi a vez de o tenente-coronel José Luiz Sanches Verardino, do 5º Batalhão, ser jurado de morte. Um major do batalhão fez um documento sobre as ameaças e o enviou ao tenente-coronel Carlos José da Veiga, comandante interino da zona norte. Suspeita-se que o mesmo grupo jurou matar Verardino e um capitão.
INQUÉRITO MILITAR
Um Inquérito Policial-Militar investigará a execução de Hermínio. A abertura do IPM foi pedida pela promotora Eliana Passarelli, da Justiça Militar, por causa de indícios de que o crime foi praticado por militares. Ela pretende apurar no inquérito também as ameaças a Gimenez, Verardino e aos outros oficiais. ¿Tudo será investigado.¿
O Estado pediu à PM autorização para entrevistar Verardino e Gimenez. Ambas foram negadas. A reportagem pediu ao chefe da corregedoria e ao comandante-geral, Roberto Diniz, entrevistas sobre o caso. Eles negaram. Às 22h30, a PM divulgou nota na qual diz que ¿formalmente, não houve ameaça direta a qualquer oficial¿. ¿As notícias que estão sendo publicadas baseiam-se em informações de pessoas que preferem o anonimato e que, por isso, não merecem credibilidade.¿
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